domingo, 8 de março de 2009

Noite insone.




Estende-se mais uma dessas horas imutáveis em que os pensamentos se apossam de nós e não encontramos ninguém além do filme ou do computador para passar o tempo.

Nessas horas de teimosas inquietações, sempre nos surgem a visão do que amamos. Hoje me surgiu a visão de um balde de café, que eu bebi, porque já aprendi que minha vontade sempre fala mais que qualquer outra coisa, e em mim ela é casada com a ação. Dupla explosiva.

Na noite não dormida a gente pensa em tudo. Na árvore que bate o galho e faz um barulho de monstro prestes a invadir o quarto, no gato miando, nas metas do dia seguinte, na louça suja da pia, na vida cheia e vazia, no medo triste de alguns, na coragem irritante de outros, na bipolaridade do mundo, nas mentes perturbadas que nos cercam, na minha fé ouvida, em amigos invisíveis, na tv sempre ligada, no travesseiro cheirando a xampu, numa florzinha plantada que esses dias despetalei tentando agarrar na falta da pedra, e por aí vai.

Estas coisas enchem minha mente impedindo que os olhos fechem, uma atrás da outra elas vem. Rápidas. Barulhentas. Dando o desconcerto e a aflição dessa hora, penso coisas que quase sempre me entristecem. Mas a melancolia me cai bem, e eu gosto dela.

Nessas noites em que só temos nós próprios como companheiro mudo e indiscreto, tudo nos vem a cabeça. O riso, o choro, a morte, o gozo. Atire a primeira pedra. Agarre-se a pedra. Conheça o pecado. Eu gosto disso. De sentir qualquer coisa.

Nessas noites insones as horas fluem em silêncio e com incrível lentidão, entre uma e a seguinte batida das horas abre-se um longo e negro abismo de cruciante intimidade.

O sono é sem dúvida um grande amigo.






(Na falta dele, um blog ajuda e muito).
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