sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Das dores que tenho medo.

Quando brotou amor em mim, fiz poesia, fiz prosa, fiz música.
Andei por aí sorrindo, sambava com a noite, conhecia os donos dos bares das esquinas, banhava o corpo com a felicidade que existia nessa minha morada de amor.
Quando o amor foi arrancado de mim, eu chorei. Sofri como nunca tinha sofrido e até achei que tinham arrancado o meu coração, porque doía muito.
Jurei nunca mais.
E por isso, meu bem, eu fujo.
Quando meu coração começa a amolecer de novo vou logo dando um soco cruzado pra ele se aquietar.
Chega a ser uma fuga inconsciente, quando me dou conta estou a quilômetros de distância.
Fujo de investidas pesadas para algo mais sério, fujo tremendo quando ouço "quero casar com você".
Fujo de amores pra não sentir as dores.
Com você não foi assim, você sabe.
Tudo fluiu como aquela nossa bossa, nós tínhamos nossas noites de violão com Camelos e morcegos passando por nós. Tínhamos poesia, alegria. Ríamos tanto. Você, tão doce em meio ao meu azedume, assobiava mais uma canção, e mais outra, aceitando meus pedidos incansáveis.
Tínhamos tanto carinho pelo que éramos.

Só que eu me apaixonei.

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Dedo na boca.

Éramos três
Eu, você e o segredo
E sorrindo malicioso
Você acariciava meu cabelo

Altivo, bonito e fumando alecrim
Dançava Elvis e sorria
Eu era rua baldia
Mas teus lábios passaram por mim

E rindo de quem nos provém
Fez-se o suspiro quase mudo.
Desfez a noite, o teu brinquedo,
Que iluminava tudo.

Menos o nosso segredo
Que hoje guardo com teu cheiro
No bolso gasto de pano
Da minha velha calça jeans.

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Porque quis.

Nômade eu sou, 
Daqui pra lá, em um segundo eu vou.
O conforto que para muitos é tão essencial,
Até mim traz grades de metal.

Vejo a luz do sol,
o brilho da estrela
E da luz sigo o rastro,
Insisto em outro planeta

Seja feita a minha vontade
Sou deusa de mim mesma
E só a mim peço ajuda,
apenas eu posso fazer os milagres.

TE(a)MO,
ó minha eterna condição de aprendiz.
Se um dia fui triste,
foi justamente porque quis.

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Tinha o olhar atento,
no intento.
Contemplava a boca,
de longe
Que ela já sabia,
era macia.
Desviou os olhos,
a tempo
Sabendo,
amor impossível:
Era a saudade,
a felicidade
e a vontade
todos os dias.

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Anarco-amor

Não quero sua regra,
não quero seus nãos,
não quero você.
Vai e ama,
me deixa amar também,
que o amor é livre
E partir faz bem.
Depois volta, pronto pro café
Que eu fiz com um sorriso
Pensando na beleza de tudo isso
Liberdade que a gente tem
De se amar sem ser par,
Sem ser de ninguém.

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Os exatos.

Que a senescência daquele ser já estava tomando conta, apesar da idade em flor.
Porque a lua na praia não deixou de ser bonita, nem o copo do botequim, ou o queijo empanado. Que os acordes das violas dos luais ainda ecoavam aos ouvidos e a poesia ainda soletrava ardida e febril e dedilhava no ar, e além disso a alma ainda fechava os bares do Rio, mas as pernas não.
Só e simplesmente por gostar de estar ali, sentada no sofá vendo a repetição do seriado dos anos 70.
Até que ouviu da janela um sussurro constante.
Era ela, tão somente ela, pedindo socorro naquela janela.
E o silêncio enraizado naquela sala nada mais era que o grito mudo implorando pelo mundo.
Juntou as pilhas de copos e pratos, lavou.
Vestiu o vestido já meio mofado, a sandália do verão passado e foi ver se encontrava sua alma já meio bêbada e alegre na mesa de um bar...

terça-feira, 9 de julho de 2013

Janta de inverno

Quando percebi que as conversas findaram
Inda havia um fiapo de esperança.
Que o amor ali era eterno,
Mas as recíprocas viviam em mim,
Num pra sempre de espera...
As flores murchavam
E a paciência seguia magrinha
Mas havia o trato
Que tudo se resolveria
Numa tarde de primavera
E assim seguia uma vida
Com desleixo e tristeza
Vivendo como quem sabe
Ter a morte sobre a mesa.

sábado, 1 de junho de 2013

Eu que te amei demais,
Não amo mais.
Não.

Só penso,
Que queria me enroscar nos teus círculos,
adornados círculos,

E abraçar as tuas formas, teus braços
aqueles que eu pouco toquei,
Pra conseguir de novo, dormir em paz.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Estranhos extremos.

Aí você acorda mais um dia e percebe que tem muitas tarefas e em nenhuma delas você terá ajuda. Você toma o seu café sozinho, arruma a casa sozinho, leva seu filho para passear, tomar vacinas, e tudo bem, você não está realmente sozinho, porque tem a companhia de um pequeno de nove meses que ocupa o seu tempo e a sua mente com sentimentos bons e muito amor.
Mas na verdade, e apesar de não dizer isso nunca em voz alta, você queria alguém para conversar e que o respondesse, alguém que gostaria de ir ao mercado com você, alguém que dividiria os problemas com você, alguém que acorda e te beija todos os dias e que rouba as suas cobertas sem dó durante a noite. Alguém que quebra a sua xícara preferida e esconde os cacos no fundo do lixo pra você não ver que foi ele.
Você sente falta das conversas sem nexo, das risadas de madrugada, das saídas sem hora, da cumplicidade, das mãos dadas, da massagem nas costas, de dar nomes às pessoas na rua.
Você sente falta de alguém que saberia responder qual é mesmo o nome daquela música que você gosta daquele artista americano cabeludo, que começa assim...papapapa...
Então você fuma, e você come, e você bebe. Pra preencher um vazio que a poucos dias você nem sabia o que significava, mas agora você sabe.
Não quer admitir para ninguém, mas sabe.
Vai na cozinha umas 20 vezes por dia, come todos os bombons e quando acaba faz um brigadeiro de panela, mas não era doce que você queria, então você frita qualquer coisa e come.
Escreve a mensagem, exclui a mensagem, escreve a mensagem, manda a mensagem. Ai meu deus, putaqueopariu não devia, ou devia?
Pensa, pensa e não sabe o que fazer. As consequências das suas escolhas serão eternas e sérias. Mas então você lembra que o seu dever não é com ninguém mais além do seu filho e o seu coração, e então você deve seguir os dois.
Nessa nebulosidade em que se encontra a sua alma, você lê coisas que não devia e descobre que as pessoas são muito diferentes por fora e por dentro. Dentro de cada humano, há um humano diferente do que se vê pelos olhos. E falando em olhos, os seus não acreditam no que leem  e então repetem o processo.
Lê de novo, calma, não é isso, você entendeu tudo errado, respira. E mesmo assim, por mais difícil que seja,  é verdade, você relê, você estava certo da primeira vez e entra no seu corpo um gosto, um cheiro e um sentimento muito viscoso e nojento, a decepção.
Então aquelas poucas pessoas que ainda lhe serviam de alicerce, te fizeram cair. E no chão, você lamenta o fato de mais uma vez, ter de recomeçar. E recomeços são cruéis pelo trabalho que dão. Mas você é forte, ora bolas. Veja onde você está, uma mãe solteira que cria e cuida muito bem de um pequeno e ainda tem tempo de dizer tanta bobagem a um blog. Não seria esse novo re-começo que te faria mal, aliás, muito pelo contrário, se você respirar fundo vai sentir o ar puro que brindará o novo nos pulmões. A você e ao bebê.
Cansada de pensar, você resolve agir, mesmo sabendo que as pessoas são egoístas e não aceitarão a sua decisão pelo simples fato de que não é bom a elas. Pode ser bom a você, mas não a elas. E isso incomoda a você, profundamente, eu sei. Mas seja forte, aceite e assuma as suas decisões com garra, e ninguém lhe impedirá de ser feliz. Você quer, você pode.



sábado, 2 de fevereiro de 2013

Da inércia disfarçada.

Tá certo que reflexão ajuda a resolver muitos problemas. Protestar também é bom, expor sua opinião, isso ajuda a mover massas, a acender uma chama dentro de muitos seres.
Mas não adianta você ter toda uma crença virtual e não tirar a bunda do sofá.
Você reclama da tragédia, culpa o governo, mas não doa sangue, não pensa antes de votar, nem mesmo se informou sobre as vítimas, a casa noturna, que SM recebeu ajuda de outro país em sangue e pele, e que o dono da Kiss era bombeiro.
Você fala dos preconceitos, mas quando está na rua não percebe o tom dos olhos do gari, a cor da pele do mendigo ou os dentes brancos da menina pedindo pão.
Porque pra você, que sempre teve uma vida boa, que diz ter uma religião ou filosofia justa, é mais fácil fazer tudo em frente ao computador, com a bunda sentada e comendo a sua caesar salad, e pensar o que escrever no facebook enquanto está indo com seu fone de ouvido para a academia, pilates ou yoga.
E enquanto você está reclamando do calor, e depois do frio, e depois do sol, e depois da chuva, tem na porta da sua casa um cachorro morrendo de sede, de fome, de frio. E logo mais, na esquina um senhor que toma cachaça a um real pra não sentir mais fome, porque beber é mais barato que comer. E você aí, pedindo a Deus que chegue logo sexta-feira.
Então você posta no facebook uma foto de um menino na África, esquálido, falando sobre a injustiça da humanidade. Ah, consciência você tem?
Mas na hora de ajudar, de votar consciente, de acariciar, de adotar, de abraçar, de engolir o choro da mãe que veste o filho para o funeral, de levar o ferido ao hospital, de socorrer, de acudir alguém quando grita "socorro" ao invés de fugir, de dar uma moeda pra quem pede sem se perguntar pra quê ele quer, de dar comida a quem tem fome, abrigo a quem tem frio, carinho a quem tem vazio, apoio a quem não tem escada, cérebro e opinião a quem governa, de pintar a cara e pedir fim à corrupção, enfim de agir pelo grupo, aonde está você?
Sim, somos todos culpados pela tragédia de Santa Maria.
Mas mais do que isso, somos todos culpados pelas tragédias do dia a dia, aquelas que já nos são tão cotidianas que nem vemos mais passar. Somos culpados por fingir a cegueira e acreditar nela. Somos cegos pelo choque que sentimos ao vermos na tv uma notícia que também acontece no seu bairro, mas você não quer saber quando ´por perto, com medo de ter que ter responsabilidade social e ir ajudar.
Somos culpados por sermos inertes, afônicos e infelizmente, uma legião de indignados virtuais, apenas.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Do quanto eu te odeio

Os cabelos lisos no travesseiro,
O sorriso bonito na minha boca
O amargo da cerveja e o anseio
Te odeio

Voa o tempo do relógio
E com o sol, você se vai
Voltemos ao nosso ócio
Que por ti, sinto ódio.

Um abraço aconchegante
Uma barba desenhada
Um suspiro constante
Você é apaixonante

Que o ódio é desculpa
Pro amor não ficar
Pra eu não querer você
E pra nunca te implorar.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013


Ainda lembro o dia que te conheci,
Que cara estranho, eu pensava.
Mas você sorriu e eu amoleci.
Anos dessa amizade tão bonita
Dos teus conselhos tão gentis
Que mudaram a minha vida
Dos meus dias tão gris
Coloridos pelos teus vinis
Hoje sorrio por aí
Tá vendo aquele ali?
É pedaço de minh'alma
E dele sou aprendiz.


domingo, 13 de janeiro de 2013


A arte desfaz o pranto
E a noite traça o curso da solidão
O encontro da manhã, no entanto
Faz da poesia imensidão


A lágrima que cai
Faz da boca vale da morte
E leva de dentro do artista
Um amor que se esvai


Que a solidão é estratégia
Pro poeta não rezar
E fazer das palavras o cobertor
Do coração nu, sem par.

sábado, 12 de janeiro de 2013

A primeira vez que eu te conheci.

A primeira vez que eu te conheci, sim, porque eu te conheci muitas vezes em nosso pequeno percurso juntos. Mas nessa, eu me apaixonei.
Já uma das últimas vezes que eu te conheci, me decepcionei tanto. E tudo bem, você mudou, eu sei e eu também. Talvez a minha mudança tenha te decepcionado também. Talvez você tenha se magoado, e eu também me magoei.
Eu não sei se essa vai ser a última vez que eu te conheci. Algo me diz que não, porque sempre temos algo pra nos ligar, mas o que eu sei é que vai ser bem difícil te reconhecer mais uma vez.
Mas tudo bem, eu sempre espero o melhor de você. E sempre tenho mais um sorriso pra te dar, mesmo que não seja a melhor hora, o melhor momento, o merecido. Você também sempre sorri. Espero que você seja feliz, e entre da próxima vez.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Querido,
Estávamos nos divertindo tanto assim, sem compromisso, rindo e conversando sobre qualquer coisa.
Às vezes, no meio da bebedeira com amigos um lembrava do outro, e isso não era uma coisa ruim. Eu sabia dos teus podres e não comentava, tu sabia dos meus e sempre falava alguma coisa com risinhos maliciosos.
Éramos uma boa dupla de amigos.
Mas você foi tão babaca, querido. E desculpa te chamar assim, não é uma coisa que eu gostaria de fazer, te chamar de babaca, que é uma palavra tão parecida com outra que eu usava muito pra te chamar, bacana. Mas hoje só consigo pensar nessa e te peço perdão.
Eu não quero você pra mim e espero que não entenda mal quando eu digo isso, eu só queria continuar a nossa amizade tão cheia de cores e risos, os nossos dias desaprumados e encontros escondidos na calada da noite. E as conversas, ah, as conversas... tão cheias de cultura e arte!
Eu até queria ter escrito alguma coisa pra você antes, mas você sabe, eu tenho estado ocupada. Eu queria ter falado sobre a tua barba, o teu bafo, a língua meio enrolada e o jeito tímido de um bom artista. Eu queria ter dito sobre o teu beijo que começou tão devagar, aliás, tudo no início foi tão devagar que hoje você nem parece a mesma pessoa, tão sem vergonha!
Eu queria ter contado sobre aqueles dois cabelos brancos, que você disse que surgiram só depois que eu apareci. Queria ter contado sobre a sua experiência trêmula naquele dia em que eu virei café no travesseiro, mas essa eu sei, não posso contar.
Mas tudo isso agora ficou pra trás, junto com essa tua atitude babaca. Não é porque a gente não vai viver no mesmo teto que a gente não tem uma história. Essa coisa de juntar trapinhos, colocar anel e inventar apelidos cafonas um pro outro é meio demodê, você sabe, eu te contei que eu gostava disso antes, mas isso foi antes dessa minha nova fase que é tão [ma]dura e [ma]terna. Hoje eu só queria a nossa febre, e até a nossa cerveja quente que você virou num certo carro pequeno.
Ah, querido, eu gosto tanto de você. Na verdade eu sempre gostei, você sabe. Mas acontece que você é um bom amigo, um bom companheiro, e eu não quero nada mais do que isso nessa vida. Lembra aquele primeiro dia? Tanto a gente falou na tal cobrança, no tal apego, e hoje estamos aqui, sentados no mesmo lugar e inacreditavelmente na mesma situação daqueles de quem falávamos.
Eu não quero que você me entenda mal, e eu sei que você não me julga, eu lembro bem do que você disse. Sei lá, eu só queria era te dizer isso tudo, e já que você não vem mais, eu espero que as palavras vão até você.