terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Estranhos extremos.

Aí você acorda mais um dia e percebe que tem muitas tarefas e em nenhuma delas você terá ajuda. Você toma o seu café sozinho, arruma a casa sozinho, leva seu filho para passear, tomar vacinas, e tudo bem, você não está realmente sozinho, porque tem a companhia de um pequeno de nove meses que ocupa o seu tempo e a sua mente com sentimentos bons e muito amor.
Mas na verdade, e apesar de não dizer isso nunca em voz alta, você queria alguém para conversar e que o respondesse, alguém que gostaria de ir ao mercado com você, alguém que dividiria os problemas com você, alguém que acorda e te beija todos os dias e que rouba as suas cobertas sem dó durante a noite. Alguém que quebra a sua xícara preferida e esconde os cacos no fundo do lixo pra você não ver que foi ele.
Você sente falta das conversas sem nexo, das risadas de madrugada, das saídas sem hora, da cumplicidade, das mãos dadas, da massagem nas costas, de dar nomes às pessoas na rua.
Você sente falta de alguém que saberia responder qual é mesmo o nome daquela música que você gosta daquele artista americano cabeludo, que começa assim...papapapa...
Então você fuma, e você come, e você bebe. Pra preencher um vazio que a poucos dias você nem sabia o que significava, mas agora você sabe.
Não quer admitir para ninguém, mas sabe.
Vai na cozinha umas 20 vezes por dia, come todos os bombons e quando acaba faz um brigadeiro de panela, mas não era doce que você queria, então você frita qualquer coisa e come.
Escreve a mensagem, exclui a mensagem, escreve a mensagem, manda a mensagem. Ai meu deus, putaqueopariu não devia, ou devia?
Pensa, pensa e não sabe o que fazer. As consequências das suas escolhas serão eternas e sérias. Mas então você lembra que o seu dever não é com ninguém mais além do seu filho e o seu coração, e então você deve seguir os dois.
Nessa nebulosidade em que se encontra a sua alma, você lê coisas que não devia e descobre que as pessoas são muito diferentes por fora e por dentro. Dentro de cada humano, há um humano diferente do que se vê pelos olhos. E falando em olhos, os seus não acreditam no que leem  e então repetem o processo.
Lê de novo, calma, não é isso, você entendeu tudo errado, respira. E mesmo assim, por mais difícil que seja,  é verdade, você relê, você estava certo da primeira vez e entra no seu corpo um gosto, um cheiro e um sentimento muito viscoso e nojento, a decepção.
Então aquelas poucas pessoas que ainda lhe serviam de alicerce, te fizeram cair. E no chão, você lamenta o fato de mais uma vez, ter de recomeçar. E recomeços são cruéis pelo trabalho que dão. Mas você é forte, ora bolas. Veja onde você está, uma mãe solteira que cria e cuida muito bem de um pequeno e ainda tem tempo de dizer tanta bobagem a um blog. Não seria esse novo re-começo que te faria mal, aliás, muito pelo contrário, se você respirar fundo vai sentir o ar puro que brindará o novo nos pulmões. A você e ao bebê.
Cansada de pensar, você resolve agir, mesmo sabendo que as pessoas são egoístas e não aceitarão a sua decisão pelo simples fato de que não é bom a elas. Pode ser bom a você, mas não a elas. E isso incomoda a você, profundamente, eu sei. Mas seja forte, aceite e assuma as suas decisões com garra, e ninguém lhe impedirá de ser feliz. Você quer, você pode.



sábado, 2 de fevereiro de 2013

Da inércia disfarçada.

Tá certo que reflexão ajuda a resolver muitos problemas. Protestar também é bom, expor sua opinião, isso ajuda a mover massas, a acender uma chama dentro de muitos seres.
Mas não adianta você ter toda uma crença virtual e não tirar a bunda do sofá.
Você reclama da tragédia, culpa o governo, mas não doa sangue, não pensa antes de votar, nem mesmo se informou sobre as vítimas, a casa noturna, que SM recebeu ajuda de outro país em sangue e pele, e que o dono da Kiss era bombeiro.
Você fala dos preconceitos, mas quando está na rua não percebe o tom dos olhos do gari, a cor da pele do mendigo ou os dentes brancos da menina pedindo pão.
Porque pra você, que sempre teve uma vida boa, que diz ter uma religião ou filosofia justa, é mais fácil fazer tudo em frente ao computador, com a bunda sentada e comendo a sua caesar salad, e pensar o que escrever no facebook enquanto está indo com seu fone de ouvido para a academia, pilates ou yoga.
E enquanto você está reclamando do calor, e depois do frio, e depois do sol, e depois da chuva, tem na porta da sua casa um cachorro morrendo de sede, de fome, de frio. E logo mais, na esquina um senhor que toma cachaça a um real pra não sentir mais fome, porque beber é mais barato que comer. E você aí, pedindo a Deus que chegue logo sexta-feira.
Então você posta no facebook uma foto de um menino na África, esquálido, falando sobre a injustiça da humanidade. Ah, consciência você tem?
Mas na hora de ajudar, de votar consciente, de acariciar, de adotar, de abraçar, de engolir o choro da mãe que veste o filho para o funeral, de levar o ferido ao hospital, de socorrer, de acudir alguém quando grita "socorro" ao invés de fugir, de dar uma moeda pra quem pede sem se perguntar pra quê ele quer, de dar comida a quem tem fome, abrigo a quem tem frio, carinho a quem tem vazio, apoio a quem não tem escada, cérebro e opinião a quem governa, de pintar a cara e pedir fim à corrupção, enfim de agir pelo grupo, aonde está você?
Sim, somos todos culpados pela tragédia de Santa Maria.
Mas mais do que isso, somos todos culpados pelas tragédias do dia a dia, aquelas que já nos são tão cotidianas que nem vemos mais passar. Somos culpados por fingir a cegueira e acreditar nela. Somos cegos pelo choque que sentimos ao vermos na tv uma notícia que também acontece no seu bairro, mas você não quer saber quando ´por perto, com medo de ter que ter responsabilidade social e ir ajudar.
Somos culpados por sermos inertes, afônicos e infelizmente, uma legião de indignados virtuais, apenas.