segunda-feira, 29 de junho de 2009

SÓ-RISO


A boca mais bonita que já vi
Inundada de um riso aguado
Que mata minha vontade sedenta
De viver leve com asas que construí
.
Ontem sonhei que a tocava
Com suavidade e vigor
Teus lábios molhados agridoces
Me trouxeram a cura, e a dor
.
Me fazes quase louca
Com a falta do calor
Me fazes quase seca
De tanto que dou meu amor
-
E de repente, traz o riso
Como quem traz o céu e o mar
A vida se enche de sorrisos
Te vejo e começo a brilhar.

domingo, 28 de junho de 2009



Os teus olhos são frios como espadas
E claros como os trágicos punhais
Têm brilhos cortantes de metais
E fulgores de lâminas geladas.


Vejo neles imagens retratadas
De abandonos cruéis e desleais
Fantásticos desejos irreais
E todo o oiro e o sol das madrugadas


Mas não te invejo, amor, essa indiferença
Que viver neste mundo sem amar
É pior que ser cego de nascença


Tu invejas a dor que vive em mim
E quanta vezes dirás a soluçar:
"Ah! Quem me dera, irmã, amar assim!"




Frieza - de Florbela Espanca,

(que conheci graças a um lindo elogio de meu bom amigo Stanis. Obrigada.)

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Do coração,



Desprendeu o nó
Não aperta e não dói.

Prendeu no meu pé,
a corda de uma nota só.

E assim me mantenho ligada
Ao que distante me prende.

Não são correntes, são flores
que de meu riso dependem.

Mas os dias desiguais me limitam,
Dias normais me surpreendem.

Quis atropelar o calendário,
E só a parcimônia é o que consigo.

Do calor eu fiz sorriso,
Da saudade, meu paraíso.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Ambiguidade.

Tenho estado calado.
Um ser alado.
No peito nu,
dois lados.
A menina angelical.
O ódio destilado.
A pressa me impregna,
de tal modo que paro.
Meio morta, meio interrogação.
Ninguém agora faz a menção
Dos dias desiguais que se passam.
A porta do quarto que não fecha.
O buraco da fechadura macabro
Que aos poucos me revela.
E o destino que é traçado,
naquele mapa amassado
Foi descoberto, foi amaldiçoado.
Por mil bruxas e profetas
Que ao meu lado,
De anjos andam disfarçados.




terça-feira, 23 de junho de 2009

O vento.


Queria que fosse você
Quando ele me beija,
Quando ele me faz tocar,
Quando ele bagunça meus cabelos com paixão.
Queria, como ele, voar,
voar até você,
e peço para ele me levar,
Nas suas incessantes viagens no ar.
Mas inútil soa,
Voar com o vento
é o mesmo que não ir a nenhum lugar.

domingo, 21 de junho de 2009

Partida



Acontece que agora
Eu encontrei este espaço
Entre o amor e a dor
Entre a cruz e a majestade

Por dias e noites indaguei
Que sentimento ardente seria este
E vieram anjos que disseram:
"Chame, oh Deus, de saudade."

É por isto, senhoras e senhores
Da cidade pequena com língua grande
Das casas com ouvidos gigantes
Com avidez pela novidade

Que lhes digo, estou de partida
Vou e não volto para este circo brilhante
Deixo para trás o futuro que não chegou
Os dias contados de um caminhante

Deixo a inveja, a cobiça e algumas cartas de amor
Deixo a rotina, o amor de uns, a razão que não me quis
Vou-me de mochila, de ansiedade, e piso no acelerador
Vou com a sina de ser mais que aprendiz

Vou e vou de uma vez,
Por isso dou esta festa
Não chore e conte até três
Beba com pressa, depressa

Brinda ao deboche e ao calor
Que o álcool afrouxa o entendimento
Das coisas do coração, da paixão, do amor
Aprisiona a mente e devora o pensamento

Faz o melhor papel de apaziguador
Não toque, não impeça, não minta assim
Me deixa ir e ser feliz, por favor
Que agora me despeço de ti e de mim

quarta-feira, 17 de junho de 2009



Ultimamente,

Bocas compostas por morfina,

A saudade que aparece clandestina,

Cálidas flores em botões distribuídas,

O mar azul que nos espera, com clareza genuína,

Um paraíso afrodisíaco no quarto, em despedida.

O enlaçe de duas mãos que se vão, de saída.

Ultimamente, a nossa vida.

segunda-feira, 15 de junho de 2009



Hoje acordei cega.
Um estranho branco que inibe minha retina do escuro
Há uns fios suturados que aos cílios me prega
Queria ver além do ponto rosa em meio ao branco opaco
Me esmagando em um intenso torpor quase mudo

Hoje acordei muda
Os lábios grudados com cola tenaz
Queria falar além do que falo com doçura
Almejei a acidez sem ser capaz

Hoje acordei surda
Queria escutar outra coisa além da suavidade cantante desta cor
Acordes que dançam pelos cantos de meu coração
Melodias que mágicas me retiram toda a dor

E enquanto abobalhada não tenho meios para agir
Nem sei mais distinguir frio de calor
Dilata-se o ponto fixo e me encara, se entrega
E assim de cega, surda, muda e boba

Me fez o amor

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Paulatinamente
O rapaz cor-de-rosa
rouba minha pele
e suga de canudo a minha mente

Perdido e taciturno
Retira de dentro do âmago
A carne daquele órgão
Que iníquo fere fundo

A madrugada veste
o moribundo profano
E tua tez enrugada despe
o meu gasto terno de pano

Estátuas que restaram
Numa pedra que me reconforte
Corpos que empedraram
Na gélida foice da morte

O demente me causa invídia
Pois se mutila com terror
Passa a faca na sanidade
E dos pedaços ainda resta a verdade

Me retire deste espaço
Num furgão de sete cores
Pega a vela e ajoelha
Reza por minh'alma e minhas dores

Fiz de ti, do tato, de tudo meu algoz
Meu gemido de dor só sussurra
Que a felicidade é uma pílula pra dormir que fissura
Porque já não sai mais daqui esta voz

Estou de volta ao meu túmulo negro
De lá te mando flores secas de onde jaz
Vá sorrindo e não me olhe, ou volta
Senta aqui nessa terra e sente a paz

Arranca minhas tripas, minhas vísceras
Faz delas um nó e joga no chão
Pica, mói e dê aos porcos de ração
Não seja covarde e faça delas sua refeição

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Ó meu amor,
volta pra mim,
não me deixa com saudade,
me vinha com facilidade
e me fazia escritora.
Tanto tempo me fez companhia,
tantos anos de poesia.
Agora se foi, quando o amor chegou
(e justo agora!)
Volta pra mim,
volta pra mim,
Maldita , bendita...
Cadê tu, inspiração!?

terça-feira, 2 de junho de 2009

Talvez um voltasse, talvez o outro fosse. Talvez um viajasse, talvez outro fugisse. Talvez trocassem cartas, telefonemas noturnos, dominicais, cristais e contas por sedex (...) talvez ficassem curados, ao mesmo tempo ou não. Talvez algum partisse, outro ficasse. Talvez um perdesse peso, o outro ficasse cego. Talvez não se vissem nunca mais, com olhos daqui pelo menos, talvez enlouquecessem de amor e mudassem um para a cidade do outro, ou viajassem junto para Paris (...) talvez um se matasse, o outro negativasse. Seqüestrados por um OVNI, mortos por bala perdida, quem sabe. Talvez tudo, talvez nada.


de Caio F.