quinta-feira, 30 de abril de 2009

Bem feitinha.




Sobre o amor, e o desamor, sobre a paixão,
Sobre ficar, sobre desejar, como saber te amar,
Sobre querer, sobre entender, sem esquecer,
Sobre a verdade e a ilusão,
Quem afinal é você?

Quem de nós vai mostrar realmente o que quer?
O coração nesse furacão, ilhado onde estiver,
O meu querer é complicado demais,
Quero o que não se pode explicar aos normais,

Sobre o porquê de tantos porquês,
E responder,
Entre a razão e a emoção
Eu escolhi você.














- Catedral -

Eu realmente não gosto de Catedral, e seu estilinho sem estilo. Mas nunca tinha parado pra ler algumas das letras com a perspectiva de agora.
E confesso, são bem feitinhas. Prontofalei.

terça-feira, 28 de abril de 2009



Depois de dias dormindo pouco e sem sonhar acordada a fada ignorante voltou a sentir palpitações, ouvir vozes imaginárias e sentir os pés molhados.
Seu sonho desde criança sempre foi se tornar uma fada madrinha, mas se depois de todos esses anos de estudo ela continua sendo incapaz de realizar seus próprios desejos, como poderia então sair por aí com uma varinha na mão realizando os desejos das outras pessoas?




Quase tudo que se tem deve-se a outros olhos e mãos além da nossa. A minha felicidade depende de muitos, não só de mim. Varinhas de condão só fazem moedas surgirem e pombos sumirem. Truque. Tudo é um grande truque da carrasca que corta nossos pescoços paulatinamente: A ilusão.

sábado, 25 de abril de 2009

A caixinha

Vou apresentar para vocês uma caixinha. Uma caixa parecida com tantas outras que encontramos por aí.

Essa caixinha, no entanto, é bastante especial, pois guarda um tesouro. Um tesouro invisível.

Esse tesouro não é de piratas, não são moedas nem dinheiro vivo. É algo ainda mais valioso e precioso.

Dentro da caixinha, meus amigos, fica uma das virtudes mais importantes para a vida em sociedade: a paciência.

Quando possuem este tesouro, guardado, com todo cuidado, nesta incrível caixinha, as pessoas retiram dela, sempre que precisam, uma boa dose de paciência.

Paciência com os colegas. Com os pais. Com os professores. Com o trânsito barulhento. Com a fila imensa. Com os gatos miando, de madrugada.

O mais interessante é que as pessoas que têm essa caixinha estão sempre com ela cheiinha e, mesmo gastando com todo tipo de pessoa e de situação, ela nunca se esvazia. Além disso, como vivem tranqüilas e são pacíficas, essas pessoas têm maiores chances de serem felizes.

Apesar de conter tão valioso tesouro, essa caixinha é acessível a todos nós. Basta que, nas nossas preces, peçamos a Deus: “Senhor, dai-me paciência”.


Ele nunca nega esse tipo de pedido!




Tenho um baú.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Níveis de consciência.


Melhorar o sorriso,
Praticar o afeto, a compaixão,
Ser caridoso,
Desapegar-se da tristeza, do ódio, do rancor,
Apaixonar-se pelo amor, pela felicidade, pela vida.
Brilhar o olho com a fagulha de paz e amor que tens dentro de ti.
De nada adianta leitura e estudo,
se não houver prática.


A tristeza é doença que, se agasalhada, piora a febre de qualquer aflição.
A sua sombra densa altera o contorno dos fatos e das coisas, apresentando fantasmas onde existe vida e desencanto no lugar em que está a esperança. Ela responde pela instalação de males sutis que terminam por desequilibrar o organismo físico e a maquinaria emocional.

Luta contra a tristeza, reeducando-te mentalmente.

O ódio é um câncer que ataca os nervos e te faz agir de forma instintiva, ferindo aqueles que ama. O ódio perturba, transtorna e transforma o ser, desequilibrando a alma e provocando dor e arrependimento assim que a consciência desperta.

Luta contra o ódio, reeducando-te mentalmente.

O rancor é um espinho que crava no coração em um lugar quase que inalcançável. Gostaria de arrancar das carnes da alma este espinho cravado que te faz sofrer, e, por não conseguir, deixa se abater. O rancor adoece o corpo e a alma de quem o guarda, e provoca tristeza, iniciando o ciclo de dor novamente.

Luta contra o rancor, reeducando-te mentalmente.

Liberte-se dos grilhões.


Com carinho,

:)

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Passa também...



O branco. Como se tivessem aberto um buraco bem no centro das minhas idéias. O grande branco expansivo começou a me inundar, machucar, incomodar. Fechei os olhos e deitei no chão. O meu grito de adeus.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

domingo, 19 de abril de 2009

Assim.




Eu sempre fui assim.
Cheia de vontades. Cheia de capacidades. Cheia do melhor de tudo. Cheia de ideias. Cheia de (in)certezas. Cheia de fraquezas. Cheia de defeitos. Cheia de estabanações. Cheia de amor. Nunca cheia de mim.

Eu sempre quis parecer assim.
Cheia de força. Cheia de coragem. Cheia de resistência. Cheia de grandeza. Cheia de tudo o que torna as pessoas invencíveis. Mas nunca cheguei a vencer a mim.

Eu sempre tranquei aqui dentro assim.
Cheia de palavras por escrever. Cheia de uma vida inteira que nunca saiu de cadernos trancados em segredos sem chave. Cheia de amores perdidos. De erros imperdoáveis. De mágoas inesquecíveis. De palavras ditas que me cortaram a retalhos. Cheia de gente que nunca foi como a inventei. Cheia de histórias que nunca aconteceram como pensei. Mas nunca cheguei a viver nada de mim.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Achei!



O traço do percurso da borboleta,
O pirlimpimpim da varinha da fada,
A coragem de olhar nos olhos do cego,
A trança que me leva à janela do castelo.
A seda trançada em meio ao cetim brilhoso.
A nota mágica que se esconde no violão,
O riso dos meus hábitos estouvados.
O cheiro do grão do café na manhã fria.
A mordaça que inibe a peçonha da jararaca.
A ervilha debaixo do travesseiro da princesa.
Os sapatinhos vermelhos que me levaram de novo à Oz.

quinta-feira, 16 de abril de 2009



Ama, bebe e cala.

Carta

Eu odeio a sensatez, odeio pés no chão, odeio harmonia, odeio equilíbrio, odeio relacionamentos saudáveis, odeio pessoas bem sucedidas, odeio abstêmios, odeio pessoas seguras de si, odeio famílias, odeio amor eterno, odeio deus, odeio o SUS, odeio férias perfeitas, odeio a educação, odeio o bom senso, odeio sorrisos de fotos, odeio solidariedade, odeio altruismo, odeio a felicidade, odeio o cristianismo, odeio movimentos sociais, odeio a fé, odeio a paz, odeio qualidade de vida, odeio a sanidade, odeio casamentos, odeio poupanças... São mentiras enormes e tão bem disfarçadas que fazem a humanidade correr atrás disso a vida toda, como idiotas que realmente são. Mentiras que fazem todos se sentirem culpados porque não as atingem! Ninguém está aqui para ser feliz ou para mudar o mundo. Quero viver, simplesmente. Quero deixar a vida passar, sentí-la invadindo meus pulmões, ora como um carinho, ora como um soco. Beijar você, beijar você... Mergulhar em livros, filmes, festas, copos de cerveja e seu corpo. Quero uma overdose de vida! Não vou mudar nada, não vou fazer diferença, não quero um mundo melhor, não quero viver com qualidade, não quero chegar aos oitenta anos, não quero ter sucesso. Ofereça-te a ti mesmo, o mais é nada.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Me lavaram o palato!
Mostrei a cúspide, sorri.
Das papilas eu senti.
Das pupilas revivi o que vi.





No bar -
bobagens ditas.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Do fastio total:

Da cerveja quente que não chama,
do telefone que não reclama,
do chá gelado que arde,
da música do gueto que me encarde,
das bocas que não se calam,
dos cheiros que não exalam,
da febre ardida que não esquenta,
do tempo frio que não venta,
de menos dor e mais tédio,
de menos amor e mais remédio,
de menos calor e mais assédio,

de menos eu e mais o alter ego.

segunda-feira, 13 de abril de 2009



Anteontem à noite quando não parecia tão próxima a hora da morte, recheei meu peito com estopa grossa e pensei que, estofado, não se ocuparia de outras bolas de algodão, de outros retalhos, de outros panos velhos, mas foi só mais um engano, um engano cotidiano, desses que acontecem nas tardes quentes em que prestamos mais atenção ao bolo que está sendo assado do que aos chiados estáticos da nossa pele.

De nada adiantou promover um canto confortável e macio para alguém, criar teias intrincadas de sentimentos, furtar para si o que ela tem de mais genuíno e doar para ela o que você tem de mais quente, de mais borbulhante, de mais perigoso;
Isso não adianta nada, os tecidos seguem agregando seus pedaços perdidos no mundo, incorporando para si os milhões de fios de seda, de algodão, de lã, de linho e constituindo lá dentro a estopa que protege meu peito das friagens, das bruscas quedas de temperatura, das ventanias, das geadas e de toda a sorte de variações climáticas possíveis.
Dessa vez, e que se ressalte: só dessa vez, você não era pano, era o contrário disso, era o delírio de uma tarde sem sedativos, era a tentativa do último gole de cachaça que faz voltar à terra todo o resto do litro, era a gota de chuva que pega singularmente na nuca e escorre pelas costas por dentro do casaco, era saudade que deita o mais forte dos homens em febre terçã.

- você ventou em mim.

sábado, 11 de abril de 2009



Não espere de mim,
uma coisa que você não me dá.
Mas espere assim, como criança que espera o natal,
quando eu enfim notar a nota que tua voz dá,
e se for a minha,
nao espere de mim,
porque já terá.


Então ele chorou. Não sabe ainda que depois de tudo, acabou.
Sente, pensa, dói, ama.
E é triste, mas ele não fez questão de mudar esse quadro de dor.
No dia do fim, ele estava feliz. Viu que ela estava diferente e perguntou:
-Tu tá estranha, que tu tem?
E ela disse.
Foi má, e admite, mas era o único jeito.
Ela deixou uma ou duas lágrimas azedas.
Foi-se, não olhou para trás, não mais fez questão de olhares.
Abdicava a profundeza prazerosa de uma mente excessivamente hesitante.
Ele copiosamente chorou, riu, gritou, gargalhou, fugiu, brigou, escandalizou.
Precisava do tempo de novo -de novo- admitia, para poder se curar, de novo, de uma nova cicatriz, inesperavelmente aquela nova chaga, que ali não parava de sangrar, e parecia que ele não fazia questão de tentar estancar.
Ele tinha dificuldade em entender. Não sabendo os motivos, fundia o cardíaco mental em pensamentos dessa vez pouco culpados, a não ser talvez pelos próprios excessos de si mesmo. Está cansado de culpa, de compreensão, de valor. Está cansado de tanta auto-piedade.
Então ele começou a maltratá-la. Passou a verbalizar, contar histórias, colocá-la no circo dos horrores como a mulher ogra.
Mas ali dentro daquele coração a chaga ainda não estancou. E ele se arrepende.
Lembra do passado e dos planos que tinha. Do anel que comprou, do pedido que por pouco fez.
E manda e-mails. Sem resposta.
Liga. Sem resposta.
Apela para a família dela. Sem resposta.
Uma resposta que ele esperava receber, nem que fosse um não dito com toda a raiva de um esbravejado rosto de porcelana.
Mas ele sabe que ela não se importa, que ela cala, que ela não escandaliza, grita ou machuca como ele fez. Apesar de ela saber que o silêncio é a pior resposta e a mais doída que um ser humano pode receber, e por isso ela o fez. Silêncio. Ela é má.
Ela cansa da insistência. Ele cansa de insistir, mas persiste.
Não há mais palavras que saiam da boca dele, mas ele tem um turbilhão de idéias e tanto a dizer, que desaba a chorar.
E ela é má. Má.
Vira as costas e vai embora.
Meu Deus, como essa mulher ficou má! Ela não era assim, ela tinha sentimentos, não podia ver ninguém chorar, chorava junto, não podia com dor, com tédio, com desigualdade, era a boneca com o coração de ouro e agora virou um robô.
Mas ele tinha culpa nisso tudo e sabia, sabia também que nada mais podia ser como antes e mais uma vez chorou com o coração apertado, porque fazia questão de lembrar dos anos vividos pra morrer mais uma vez.
Não sabia se porque era páscoa, e em feriados a única família que ele tinha era a dela, principalmente na páscoa, quando fazia e comia as coisas que amava junto dela.
Não sabia se era por isso ou se estava ficando mais sensível com o passar dos dias.
Mas ele a queria de volta.
Ia fazer de tudo pra ter.
Afinal, como uma vez ela disse, não é o amor que é uma fatia de maçã; é a paixão, que oxida, fica marrom, apodrece e morre.
E de amor ele sentia e entendia.
Mas ela tinha ficado má.
Aprendeu com as pessoas que conhceu, com os dias que vieram e com as coisas que ouviu, que para a sobrevivencia, devia ser má.
E ela estava.
Cruel, bruxa, frívola e má.



Um dia, uma dona de casa buscava gravetos para o fogão à lenha para fazer o almoço para sua família. Cortando o galho de uma árvore tombada, seu machado caiu no rio. A mulher suplicou a Deus que lhe ajudasse. Ele apareceu e perguntou:

- Por que você está chorando?
A mulher respondeu que seu machado havia caído no rio.
E Deus entrou no rio, de onde tirou um machado de ouro, e perguntou:
É este seu machado?
A nobre mulher respondeu:
-Não.
Deus entrou novamente no rio e tirou um machado de prata:
-É este o seu?
- Também não, respondeu a dona de casa
Deus voltou ao rio e tirou um machado de madeira, e perguntou
- É este teu machado?
- Sim, respondeu a nobilíssima mulher.

Deus estava contente com a sinceridade da mulher, e mandou-a de volta para casa, dando-lhe os três machados de presente.
Um dia, a mulher e seu amantíssimo marido estavam passeando no campos quando ele tropeçou e caiu no rio. A infeliz mulher, então, suplicou a Deus por ajuda. Ele apareceu e perguntou
-Mulher, por que você está chorando?
A mulher respondeu que seu esposo caíra no rio.
Imediatamente Deus mergulhou e tirou o Rodrigo Santoro, e perguntou:
- É este seu marido?
- Sim, sim, respondeu a mulher.
E Deus se enfureceu.
Mulher mentirosa!!! - exclamou.
Mas a mulher rapidamente se explicou:
-Deus, perdoe, foi um mal-entendido. Se eu dissesse que não, então o Senhor tiraria o Gianecchini do rio; depois, se eu dissesse que não era ele, o Senhor tiraria meu marido; e quando eu dissesse que sim, era ele, o Senhor mandaria eu ficar com os três. Mas eu sou uma humilde mulher, e não poderia cometer trigamia... Só por isso eu disse 'Sim' para o primeiro deles.
E Deus achou justo, e a perdoou.
Moral da história:

Mulher mente de um jeito que até Deus acredita.


(Autor desconhecido)

sexta-feira, 10 de abril de 2009



O bom da sexta santa,

é comer um quilo de camarão sem culpa, abusar do salmão até ficar laranja, experimentar fazer pirão de peixe e salada de batata com bacalhau.

É não estar nem aí para as convenções, não ir a igreja porque não faz sentido, se o sentido da morte não encontramos em uma batina ou numa hóstia (aquele pãozinho sem fermento que é abençoado pelas mãos de alguém tão pecador quanto eu).

Como um discurso decorado em latim pode me fazer entender a magnitude da vida, a grandeza de Deus, o sentido do amor, o valor da fé?

O lado bom da diocese é que depois de enforcarem bruxas, pobres e ateus e ditarem as regras de cristo com derramamento de sangue e dízimos, foi que eles dominaram as américas e inventaram feriados.

Para mim, todas as sextas são santas...

Mas já que se tem uma data no calendário em que não se trabalha e nem se come carne para celebrar, que se deguste!

E nada melhor para isso do que uma noite, graças a Deus, mal dormida, um café bem quente de manhã e nada de culpa no coração. Nada melhor do que chegar em casa com a cara amassada, o pé dormindo e o sorriso surgindo.

Se a sexta santa também é chamada de sexta da paixão, porque não?





_______________

E o mais legal, é que se eu tivesse escrito isso há alguns séculos, vocês estariam na frente da igreja matriz com tomates podres na mão, me assistindo subir no palanque da guilhotina. Santa religião católica!

quinta-feira, 9 de abril de 2009



Nada posso te dar que já não exista em você mesmo.
Não posso te abrir outro mundo de imagens,
além daquele que há em tua própria alma.
Nada posso te dar, a não ser
a oportunidade,
o impulso,
a chave!
Eu o ajudarei a tornar visível o seu próprio mundo,
e isso é tudo.

terça-feira, 7 de abril de 2009

Versos bobos

Construí uma redoma de energia.
Que não me deixa evaporar.
Capta tudo, mas nada entra.
Fala e olha, mas nada exporta.

A redoma me protege.
Dos miasmas terrenos.
Da angústia, falsidade.
Da louca, louca vontade.

É uma energia imantada.
Só chega perto quem atrai.
Pólos iguais se repulsam.
E meu pólo negativo não se distrai.

E ela tem umas figuras,
Imagens, desenhos e sons.
Pra quando o tédio fizer companhia
Eu não sinta minha habitual alergia.

A redoma me livrou a cara
Umas duas ou três vezes de evaporar
Quando quebrou deixei ela num canto
E de novo senti a injeção na jugular

Mas me concentrei
Com gosto e esmero a consertei
Me veio cheiro de mar e gosto de céu
Riso escondido tirou o véu.

Agora coleciono energias
Pra redoma não embaçar
Há necessidade interior de luz
Diamante dos amantes
Estilhaçados, alçados ao céu ao léu.
Imóveis, suspensos no ar.

Vou é me esbaldar
No que a redoma me traz
Pitonisar oxigênio relutante,
Despertar com sorriso cativante,
Espetar risos em faces duras
Pronunciar sons estimulantes

segunda-feira, 6 de abril de 2009

.

Levanta não, te pago outra vodca, quer? Só pra deixar eu falar mais na roda. Você é muito garoto, não entende dessas coisas.
Deixa você passar dos trinta, trinta e cinco, ir chegando nos quarenta e não casar e nem ter esses monstros que eles chamam de filhos, casa própria nem porra nenhuma. Acordar no meio da tarde, de ressaca, olhar sua cara arrebentada no espelho. Sozinho em casa, sozinho na cidade, sozinho no mundo. Vai doer tanto, menino. Ai como eu queria tanto agora ter uma alma portuguesa para te aconchegar ao meu seio e te poupar essas futuras dores dilaceradas. Como queria tanto saber poder te avisar: vai pelo caminho da esquerda, boy, que pelo da direita tem lobo mau e solidão medonha. (...)
Dá minha jaqueta, boy, que faz um puta frio lá fora e quando chega essa hora da noite eu me desencanto. Viro outra vez aquilo que sou todo dia, fechada sozinha perdida no meu quarto, longe da roda e de tudo: uma criança assustada.
Então me vens e me chega e me invades e me tomas e me pedes e me perdes e te derramas sobre mim com teus olhos sempre fugitivos e abres a boca para libertar novas histórias e outra vez me completo assim, sem urgências, e me concentro inteiro nas coisas que me contas, e assim calado, e assim submisso, te mastigo dentro de mim enquanto me apunhalas com lenta delicadeza deixando claro em cada promessa que jamais será cumprida, que nada devo esperar além dessa máscara colorida, que me queres assim porque assim que és...




(Caio F. Abreu)
;)

quinta-feira, 2 de abril de 2009

A valsa dos corações partidos.





Eu costumava dançar.

Eis que um dia meu pas de deux saiu torto, dei um nó nas sapatilhas com as polainas e eu caí.

Não quis mais aquele bailarino fazendo duo comigo.

Ele não acompanhava mais meus passos e compassos.

Foi a primeira vez que parti um coração.

Quando aconteceu, me senti livre daquela coisa toda forçada na marra, classuda que é o ballet, e pendurei as sapatilhas no cantinho do quarto.

Fui fazer jazz e street dance, que tinha a essência surtada como eu.

Gostei.

Mas enquanto isso aquele coração partido, que eu parti com o fio da navalha das minhas palavras, dançava ao som da tristeza de Astor Piazolla.

Virei demais a cabeça pra tentar enxergar aquela dança confusa em meio à tristeza arredia, me esquecendo que eu também dançava, e torci o tornozelo, desabando ao chão.

No chão percebi que naquele palco ao lado já não era mais Astor Piazolla, e sim uma música sangrenta, enchendo de ódio aquele lugar.

Eu já havia ouvido falar naquela música, diziam que ela tocava nos confins da Amazônia, Patagônia, e nos becos escuros dos corações solitários.

Mas nunca havia visto aquela coisa tão feia, gritante e desesperada em minha vida.

Parei de dançar.

Comecei a só olhar, e chorar.

Como um dançarino podia encenar aquilo? Quis apagar as luzes do meu palco e não mais voltar.

Foi então que mais uma luz se acendeu naquela arena.

Outro palco, outro dançarino.

Comecei a olhar e deu vontade de, de novo, dançar.

Que dança confusa, triste, mas bonita esse dançarino faz!

Notas que desconheço, piruetas incrivelmente errantes e um certo desapego àquela dança harmoniosa que me fez corar.

Dançava sutil, leve, calmo como uma música erudita.

Certeiro e concentrado como uma obra composta por Brahms.

Olhei por certo tempo, incrédula.

Fechei os olhos para ouvir o som daquela dança, e quando dei por mim, todas as luzes estavam acesas de novo.

Onde mesmo coloquei as sapatilhas?

Vamos valsar?

Iniciamos uma dança só de risadas, alegre como samba e com um ritmo elevado como o sapateado.

E foi então que me lembrei da morbidez do outro cenário, olhei em volta e uma suave luz amarelada envolvia aquele palco do lado de lá.

A música era melancólica dessa vez, de Edith Piaf cantando em cabarés, embalado não por uma dança, mas apenas por um movimento de cabeça do dançarino triste, que fitava minha nova dança feliz.

E do palco do lado de lá ele desceu, e pôs-se a ovacionar.

Eu nada entendia.

Ele ovacionava a mim posta a dançar e cantar!

Mas e eu quem era?

Não a artista. Não a dançarina. Não a cantora! Não a platéia, não a autora.

Só a moça que não queria parar de bailar e tinha medo da sapatilha de ponta quebrar.
Eu queria mesmo era impressionar o outro moço bailarino que devolveu a dança ao meu calcanhar.


quarta-feira, 1 de abril de 2009

O MENOR CONTO DE FADAS DO MUNDO

Era uma vez uma bela moça que pediu um garoto em casamento:

- Você quer se casar comigo?

Ele respondeu: - NÃO!

E a moça viveu feliz para sempre, não teve filhos, viajou, conheceu muitos outros garotos, fez plásticas, não lavou louça nem fez jantar, visitou muitos lugares, sempre estava sorrindo e de ótimo humor, nunca lhe faltava pretendentes, ia e voltava a hora que queria, saia pra jantar com as amigas sempre que estava com vontade e ninguém mandava nela.

O garoto: ficou velho, careca, barrigudo, engordou, broxou, se fudeu e ficou sozinho...

FIM

:)