quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Feliz ano novo.



Feliz excesso na bebida,
Feliz abraço fingido no parente insuportável.
Feliz nova esperança, que já é amarela de tão antiga.
Boa sorte nas sete ondas,
Boa sorte na próxima vida.
Que é o próximo ano que ronda,
Como se fosse uma outra partida.
Mas no fim são sempre os mesmos dados,
A mesma sorte.
Que se divide quando os minutos mudam.
Boa sorte na hipocrisia,
de que um novo ano será um ano novo.
E feliz morte!
Do velho, ocre e fétido.
Que deixas ir em partida,
Enquanto o vento sopra e bate na porta,
A esperança que brota desinibida.
Falsa.
Porém, protegida.
Por estar presente em todos neste último dia.
Ah, os dias finais.
Sua data preferida.
Pois faz somente o que  lhe é capaz,
Estancar o sangue da ferida.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

À tout le monde

À todo mundo.

Não me lembro onde eu estava
Eu percebi que a vida era um jogo
Quanto mais sério eu entendi as coisas
Mais difíceis as regras se tornaram
Eu não tinha idéia do que isso custaria
Minha vida passou diante de meus olhos
Descobri o quão pouco eu realizei
Todos os meus planos negaram

Então enquanto estiverem lendo isso, saibam meus amigos
Que eu adoraria ficar com todos vocês
Por favor sorriam quando pensarem em mim
Meu corpo se foi, isso é tudo

A todo mundo
A todos meus amigos
Eu os amo

Eu devo partir
Essas são as ultimas palavras
Que irei sempre falar
E elas irão me libertar

Se meu coração ainda estivesse vivo
Eu sei que certamente ele partiria
E minhas recordações deixadas com você
Não há mais nada a dizer

Seguir adiante é uma coisa simples
O difícil é, o que deixar para trás
Você sabe, o sono já não sente mais dor
E a vida está cicatrizada

A todo mundo
A todos meus amigos
Eu os amo

Eu devo partir
Essas são as ultimas palavras
Que irei sempre falar
E elas irão me libertar

Então, enquanto você lê isto fique sabendo, meus amigos
Eu gostaria de estar com vocês todos
Por favor, sorrir, sorrir quando você pensa em mim
Meu corpo se foi e isso é tudo

A todo mundo
A todos meus amigos
Eu os amo

Eu devo partir
Essas são as ultimas palavras
Que irei sempre falar
E elas irão me libertar


(Megadeth).

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Um solitário nômade no moinho.

Já não há mais motivos para querer ficar, querer voltar, querer estar.
As distâncias são grandes, muito grandes. E as viagens são muito longas e cansativas.
Não pensar o por quê de querer ficar é quase como ignorar o percurso do tempo, que ele insiste em jogar na cara, dando tapas que doem. E que esses sim, permanecem. 
Não adianta olhar para o retrovisor e ver uma bela cidade iluminada, querer ficar, e seguir em frente.
Devorar livros para esquecer o presente, se jogar no trabalho que antes satisfazia e hoje em nada ajuda a rotina para desviar o trajeto maldoso que a mente insiste em procurar.
Comer tudo o que der vontade, lutando contra o funcionamento daqueles órgãos já escaldados pelo excesso.
Fugir. Daquela casa, daquela cidade, daquele estado, daquele país.
Olhar o gordo contra-cheque e não conseguir imaginar um sequer motivo para sorrir.
E aquelas velas numeradas em cima do bolo sentenciando o tempo de morte.
Fracassar sem entender. Se esforçar e perder. Traduzir a bíblia do latim para o francês, para que a saudade não sufoque, para que o coração não congele dentro da fogueira.
Depois de tanto vazio, só resta vazio. Mesmo que os dias passem e a estopa seja grossa, o vazio continuará lá, determinando para sempre a existência destes dias cruéis.
Procura-se um esboço de sorriso no espelho, mas é o travesseiro quem limpa as lágrimas recorrentes.
Solidão e medo na sempre companheira mala pequena.
De tudo, apenas dois trunfos. Dois companheiros.
Então ama, bebe e cala.
Vai, pára na esquina, passagem na mão, olhos na cidade. Acende seu cigarro de palha.
E anda.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Iminência

O quase é corrosivo o suficiente para me causar dor. A incerteza e o talvez são crueis demais. Palavra contra palavra, eu não quero acreditar. Prefiro continuar submersa na argila. Não posso suportar o confronto pueril que me faria pequena demais, pequena demais para continuar. O grito continuará estancado logo abaixo de minhas cordas vocais, serei forte e cuidadosa para não deixá-lo escapar. Por mais que meu coração sufoque, por mais que o enjôo tome conta de mim, não vou me submeter. Estou cansada demais, carente demais, sozinha demais.

domingo, 12 de dezembro de 2010

Rosa dos ventos.

O tempo parou encravado no ponteiro
Num número que não significa nada
Não dá o norte, nem a direção da fada.
Não diz o dia, não diz a hora,
Nem sei se bate o coração
Se o dia nasceu, ou não
Lá fora, continua o turbilhão
Da massa de um mundo incansável
Que pisa tudo, tudo é chão!

A hora, por certo, já passou
O dia nasceu, entardeceu
Tudo é igual, nada mudou.
A escrita continua a percorrer o mesmo caminho
A erguer-me, a empurrar meus passos
Num rumo incerto, talvez sem destino.

Meus pés já denotam o cansaço.
E meu rosto esconde-se
Nas pinturas coloridas, disfarçado de palhaço
Onde todos riem e o resto pouco importa
E a sorte faz o resto
E o futuro fica longe, ou fica perto?
Talvez seja hoje e nem reparei nos ponteiros.
Talvez dê ouvidos ao vento norte.
Talvez volte a rolar, os dados da sorte!

sábado, 4 de dezembro de 2010

A hora do pranto.

Foi apenas lendo.
Li e senti o coração na garganta. O choro veio forte e rápido, num suspiro dolorido de quem sente saudades.
A voz dele agora tão distante parecia estar gritando em meu ouvido uma de suas músicas.
Ele cantava a minha dor.
Ele sorria, ria em uma imagem em minha cabeça.
Seus  quatorze diferentes personagens secretos eram conhecidos apenas por mim.
E naquele momento, ele estava lá, na distância de um abraço de partida, em sua grama verde e com seu
rouxinol na gaiola escrevendo coisas sobre mim.
Peculiar em todos os aspectos. Na escrita, na música, na beleza, na juventude e na senescência, na quietude e no grito. No metamorfo que só eu reconheceria mesmo que mascarado. Se estivesse rindo e o coração em lágrimas, eu saberia. Se estivesse cantando um samba, mas sofrendo, eu saberia.
Porque ele sempre foi alma de minha alma. A dura carne dividida. A roda do caminhão que carrega minha cruz. Meu amigo, meu irmão, meu chão.
E aquelas letras formariam palavras, que formariam frases, as tais que me fizeram chorar.
Chorar de saudade, chorar da falta daquela [in]sanidade. Chorar pela tua perspicaz filosofia.
Dividir o pão, dormir no chão, abraçar a dor em tardes frias.
Chorar pelo que não veio, gozar do anseio, beber a harmonia.
Temer o vazio, criar o mundo, pintar o quadro da alegria.
Sermos dois, sermos um, não saber viver sem a tua companhia.
Sem você, gélidos momentos de agonia.
Em que a carne não suporta o sobreviver da espada dentro do coração.
Metal que inflama com a saudade, e faz arder a crua lágrima.
Faz o mundo girar lento.
Perde o equilibrio meu peão.


http://matheusocon.blogspot.com/2010/11/minha-janis-minha-joplin.html


Oh Lord, won't you buy me a Mercedes-Benz?
My friends all drive Porsches, I must make amends
Worked hard all my lifetime, no help from my friends
So Lord, won't you buy me a Mercedes-Benz?

domingo, 21 de novembro de 2010

Entrei naquele bar sozinha. Era um lugar bonito, com mesas e cadeiras feitas de madeira nobre e escura. A meia luz me deixava confortável, apesar daquela sensação de que algo aconteceria naquela noite.
Sentei na mesa e pedi um dry martini, porque estava uns graus a menos do que habitual para aquela cidade tropical e eu preferia um drinque do que a cerveja de costume. Passou por mim um homem bonito, como aqueles homens dos filmes antigos que tem rostos de porcelana e traços bem traçados e masculinos, uma típica estátua de deus grego. Ele me olhou e sorriu, parou e sentou sem pedir licença na cadeira ao lado. Ele era inteligente, interessante, bonito e tinha a etiqueta de um cavalheiro inglês. Bom demais para ser verdade.
Pediu uma garrafa do melhor vinho ao garçom, e antes mesmo que eu pudesse terminar o meu martíni, ele pediu outro para mim. Perguntou meu nome e o que eu fazia ali sozinha numa noite de sábado, e com cuidado e cordialidade, me disse que moças não devem sentar sozinhas, por isso ele gostaria de sentar e conversar, se assim eu quisesse. Não respondi de imediato, olhei incrédula para aquele ser tão nórdico e educado, e sabendo que nada de tão interessante poderia acontecer, respondi em afirmativa.
Perguntei seu nome com curiosidade extrema, de alguma forma ele me instigava com seu jeito misterioso. Com a sua elegância peculiar, ele sorveu um gole de seu vinho tinto e mudou de assunto, descobrindo com perguntas os segredos de meu complexo âmago.
Tivemos uma longa conversa agradável. Conversamos muito sobre a cidade, sobre filosofias, sobre o futuro, sobre redenção.
Estranhamente ele sabia mais de mim do que podia, sabia coisas obscuras que minha boca não proferia nem a um padre na hora da morte. Sabia se o que diria me afetaria, sabia que se o dissesse de outra forma não, como um psicólogo que examina seu paciente a cada movimento de mãos, braços e pernas, a cada nova expressão facial. Estranho, mas surpreendente.
Meus olhos se perdiam entre as pessoas na meia luz, e por minutos fiquei vidrada naquela vitrola antiga que servia de enfeite e tornava o ambiente aconchegante, vidrada nela, mas com pensamentos longíquos e quinze imagens diferentes passando na minha mente como fotografias.
Mesmo com o meu silêncio, as horas de conversa iam se estendendo com o único objetivo de descobrir o que havia debaixo da máscara silenciosa que encobria meu rosto. Havia em mim um lago cristalino, e a cada gole sorvido de seu vinho tinto ele nadava mais fundo, se aproximando da área remota e muito escura de sua imensidão.
Pediu ao graçom mais um drinque para mim e colocou na junkie box uma das mais tristes bossas para que meus pensamentos se perdessem no vento e meus olhos ficassem distantes mais uma vez.
Como alguém tão estranho poderia saber tanto sobre mim?
Ele discutia sobre assuntos diversos, mas quando falava de mim, sempre tinha uma teoria, então às vezes eu o achava chato, certas vezes irritante, às vezes eu concordava com ele. Mas de certa forma, ele sempre estava certo.
O ponteiro passava rápido, mas o tempo parecia estagnado. Eu não conseguia mais parar de prestar atenção em seus olhos, sua psiqué, sua dialética. E seus argumentos estavam sendo imprescindíveis para a decisão de tantos dos meus planos!
Ele sabia tudo sobre mim, e eu sequer sabia seu nome, mas isso não importava mais. Eu só queria que ele estivesse perto de mim para sempre como naquele dia ele estava. Eu queria suas idéias.
Na verdade, comecei a perceber que eu necessitava delas para a minha sobrevivência.
Onde ele esteve esse tempo todo? Em que lugar escondido do mundo ele estava para que esse encontro acontecesse somente nesta noite solitária?
- Eu sempre estive mais perto do que você pensa. - Ele disse com seu charme antológico e seu sorriso torto.
Apaixonante.
Quando enfim o garçom recolheu o último copo vazio e a música parou de tocar, eu perguntei o seu nome nervosa e titubeando:
- Quem é você, afinal? -
- Eu sou parte de você, sou um pedaço de sua alma, sou a qualidade da sua mente, eu sou suas três dimensões...
Eu sou a sua consciência.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Prata.

Um par de dedos enfeitados. 

A chuva, a melancolia, o concreto, o azul discreto, a salina na boca, o tempo correndo com o vento.

Tudo fica tão mais bonito com meu coração batendo no ritmo do teu peito. 

Com tua mão direita pesando na minha mão direita, guiando os passos também direitos que damos em direção à nós mesmos. 

Nossa juventude contra a direção, nosso riso deitado no colchão, nosso amor em teu lençol azul cor-de-giz. 

Nossa matéria se desfaçelando em mil grãos desabotoando o terno italiano, despindo a saudade.

Nossa maestria nos dedos carinhosos, majestosos de quem sabe ser em dupla aprendiz.

A ti, minha lealdade. 

 

 

 

 

domingo, 14 de novembro de 2010

Subliminar.

Eu parto do pressuposto espiritual de que se estamos neste planeta é porque somos seres involuídos.
Morar aqui é queimar karma, só pode.
Por sermos seres involuídos e infinitamente inferiores, sentimos raiva, paixão, ciúme e (por que não?) inveja. Sim, todos sentimos inveja, uns mais, outros menos.
Tem gente que libera isso em forma de olho gordo, tem gente que aceita a inveja e guarda. Eu não tenho muitas invejas negras, a maioria delas são brancas e brandas, como dos moradores de jericoacoara ou de Paris, ou de quem tem tatuagens lindas, ou de quem sabe se vestir bem.
Mas ele me causa uma inveja negra fudida, não sei nem medir esse tamanho de inveja profunda e raivosa que se alimenta dos meus mais genuínos e puros desejos.
Me peguei o xingando outro dia, só porque tenho inveja.
Tenho inveja que ele fica o dia inteiro escrevendo, tenho inveja que os pais dele têm dinheiro para mantê-lo em casa com a mais bela biblioteca do mundo, com os mais nobres autores lhe fazendo companhia em sua cadeira confortável de 2678 dólares e com os mais sofisticados utensílios de escrita.
Morro de inveja quando pego meu laptopzinho que me irrita com suas teclas falhas ou quando eu não tenho internet para fazedr pesquisa, morro de inveja quando quero ler aquele livro raro que só se encontraria em algum lugar nórdico inacessível e ele tem em casa e nunca leu, tenho inveja que ele não precisa trabalhar pra pagar as contas e, por isso, tem tempo de fazer leituras, releituras e poesias lindas e saborosas que enchem os olhos e o coração com tanta beleza 'degustável'.
Só pra constar, a gente não se conhece.
Se eu o conhecesse, a inveja se transformaria em orgulho, porque é isso que eu sinto pelos amigos que fazem coisas legais.
Mas eu sei umas coisas da vida dele, eu sei que ele é sociofóbico e tem poucos amigos, eu sei que ele tem depressões e angústias gigantescas, eu sei que a felicidade dele é abstrata e distante. agora me pergunta se eu troco a minha vida de pobre que pega o ônibus todo dia e atrasa faturas e contas, mas que tem amigos tão amigos que lêem qualquer porcaria que eu faço – e ainda elogiam – pela vida dele?
Não troco, não troco, não troco.
Não troco minha vida suada pela vida “fácil” dele por nada neste mundo. não troco as festas frenesi na casa da Kaká ou do Diego, não troco as jantas com 30 pessoas que dividem pratos e talheres sem nojinho, não troco as baladas de 20 reais (e ainda assim bem bêbadas), não troco esse riso frouxo que ganha o coração de sogras e crianças, não troco as noites frescas na varanda movidas a piadas e bobagens por uma vida glamurosa e solitária na super biblioteca nem a pau.

Eu não sei quem me falou um dia que nosso espírito vem ao mundo sabendo do nosso destino. Eu acredito tanto nisso, principalmente quando acontecem dejà vús intensos.
Pelo jeito eu escolhi ter amigos de verdade. E isso não tem conta bancária no mundo que compre.
Aliás, do que eu tava sentindo inveja mesmo?

Nada, absolutamente nada mesmo, paga uma discussão entre eu, Matheus e Zanow sobre as teorias e os teóricos e os paralelos dos escritores da antiguidade para os modernos. Com gente assim na vida, quem precisa de uma Saraiva em casa?

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Desate os nós.

Eu tinha quase trinta anos quando cometi um dos maiores erros da minha vida.
Eu era um rapaz bonito, bem-sucedido e que tinha muitos amigos, eu era conhecido e reconhecido.
Porém, minha mãe e eu não nos falávamos mais. Por motivos que até hoje não entendo quais são, ela deixou de me amar. Não me olhava mais nos olhos e queria muito que eu saísse de casa para não ter mais que me aguentar. Eu estava triste, cabisbaixo, e chorava muito por aqueles dias.
Eu tinha uma linda namorada com quem eu compartilhava a minha tristeza. Mas a minha mãe proíbia a entrada dela na minha casa.
Haviam dias em que eu chegava em casa cansado do trabalho, e a única coisa que eu queria era um pouco de atenção e carinho, carinho esse que eu sempre recebi dela, antes da ojeriza. Eu nem exigia tanto, apenas atenção, conversação me bastariam.
Mas tudo o que eu via era o seu olhar de desprezo para mim.
Pouco tempo se passou assim até que a raiva que ela sentia de mim se propagou, e eu além de tristeza, passei a odiar a mulher que eu mais amei na minha vida.
Foi com ela que dei meu primeiro passo.
Foi ela que cortou a minha primeira mecha de cabelo loiro.
Foi ela que fez da colher um avião para que eu sentisse prazer em comer gororobas de beterraba.
E hoje, ela não significa mais nada pra mim.
Como é triste lembrar do bonito que algo ou alguém foram quando esse bonito começa a se deteriorar irremediavelmente.
Um dia, cheguei em casa perdido. Eu tinha discutido com meu chefe, estava triste, minha namorada não atendia o telefone e pra piorar eu havia comido e deixado o meu prato na pia.
Pronto. O prato na pia virou escândalo. Minha mãe me atirou ofensas como quem acerta um punhal no peito alheio, e meu corpo começou a chorar por inteiro de suor e lágrimas.
Já não suportava mais aquela situação.
Corri para o meu quarto e chorei copiosamente. Não conseguia entender porque aquilo estava acontecendo comigo. Liguei o som no mais alto que minhas caixas aguentavam e coloquei a música mais pesada que eu conhecia. Nuvens negras entravam em meu quarto e tomavam conta de meu cérebro, me deixando cego.
Fui até a gaveta onde meu pai guardava seus objetos mais pessoais, peguei seu antigo 38 e com elegância e graça dei um tiro na cabeça, deixando apenas um bilhetinho:


Grande parte da vida que eu possuía foi roubada, vendida ou doada. 
Quanto aos meus restos mortais, suplico encarecidamente; não o torturem com choros, rezas ou velas. É apenas a minha matéria e imploro que a deixem degradando-se em paz. A putrefação não é degradante. Se a humanidade permitisse que a natureza tomasse o seu curso, seria o renascimento da matéria.
Eu renasceria no vento que passa a murmurar, nas folhas que farfalham, no solo que abriga e alimenta milhares de seres vivos, na água que corre para o mar nas chuvas que regam os campos, no orvalho que cintila ao luar, nas grandes árvores que abrigam ninhos de passarinhos e que vergam a passagem dos ventos fortes, nos pequenos arbustos que escondem a caça do caçador...
Céus! Eu me vingaria se apenas uma de minhas partículas participasse do desabrochar de uma flor ou do canto de um pássaro. 

Romântico? Não! 
Foi o mundo, a política, meu educador, mas principalmente... foi o seio que aconchegou a criança que vinha lhe contar as suas tristezas, mágoas, alegrias, pensamentos, e seus desejos íntimos... suas esperanças. 
A criança crescida quer voltar para lhe contar seus sofrimentos, desilusões, a morte de suas esperanças... para encontrar novamente o aconchego onde poderá descansar sua cabeça cansada e abatida e onde poderá, enfim, chorar as suas lágrimas que não encontram mais onde chorar.
Volto derrotado porque não fui capaz de viver. Trabalhar e estudar não foram suficientes para mim. E foi tudo o que me restou. Prefiro morrer do que viver com a morte dentro de mim. 

É melhor queimar do que se apagar aos poucos.
Perdoem-me.


Minha mãe nunca se perdôou e viveu em depressão em cima de uma cama de hospital durante 9 anos, até falecer de desgosto.
Mas ela teve milhões de chances de se redimir, e eu também.
Com apenas duas palavras: Me perdoa?
E nós dois não o fizemos. Me arrependo amargamente de ter interrompido uma vida frutífera por mágoas. Me arrependo de não tentar conversar com ela mais vezes sobre essa morte do amor dela por mim.
É triste morrer sem entender. É triste perder alguém sem entender.

Não deixe que as mágoas, o rancor e a raiva tomem conta da sua vida.
Não construa paredes, muros e edifícios em volta de você, abra-se. Deixe-se ser descoberto.
Perdoe-se, perdoe aos outros. Desate os nós. E seja feliz.




É tão bom ser oco.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

La foul.

Ouvindo Piaf senti isso, essa coisa fria que me arrepiou, la foul.
Deprimente, porém bonito. São as marcas dos nossos tropeços doendo que nem cicatriz em dia de chuva.  
E assim, ouvindo o som que entrava suave aos meus ouvidos, e aquele sotaque que parecia ter sido meu em alguma outra vida, chorei. Chorei durante 23 minutos. Engoli a cerveja, desliguei a vitrola e saí para me divertir.
Com o pensamento distante, quase perdido, eu parecia uma autista passeando pelas ruas do Leblon. 
Em um vazio me faço gente, mas dois passos depois e me perco de novo na imensidão caótica da minha mente. Minha dura carne que me trai.
Mas como a tudo se supera, um pouco antes de o sol nascer, a dor já havia sido retirada como se a cerveja fosse morfina, e a ferida devidamente estancada.
Difícil é quando a gente bate no machucado vez que outra e ele volta a sangrar, nos lembrando de como somos frágeis quando sentimos dor.
Até lá, eu vou fingindo que ele não existe, coloco umas ataduras por cima pra disfarçar, viro o rosto, ponho meu salto alto e vou beber, rir e dançar.

Alors, sans avoir rien
Que la force d'aimer,
Nous aurons dans nos mains,
Amis, le monde entie!

domingo, 31 de outubro de 2010

Sonhos de Margarina...

...Eu já tive.

Já me vi com uma bela família, em torno da mesa de café da manhã, tal qual mostra o comercial. Mas na vida real os sorrisos harmônicos não são eternos.

Aprendi então a comemorar os instantes felizes. Uma noite, um café, uma bossa, um beijinho, o riso.

Aqueles instantes salvadores, cuja natureza efêmera não permite grandes vôos, muito embora nos deixem quase sempre no céu.

A vida é feita de instantinhos.


terça-feira, 26 de outubro de 2010

Metafórico.

Parei pra pensar no processo de perda da rastejante, ignorante e terminal taturana que pensava que seu fim tinha chegado quando na verdade ela estava se preparando para seu grande momento de amadurecimento.
Ela perderia todas aquelas patas e ganharia duas lindíssimas asas.Ela perderia peso e ganharia leveza. Ela só tinha a ganhar e a coitada se lamentava iludida e sofrida com a passagem.
Era o bom e velho jogo do "quem perde ganha". Do menos, é mais.
Claro que não é a primeira vez que passo por um processo desses, mas parece que a vida não dá folga: é como um videogame que cria maiores dificuldades quanto mais você vai vencendo.
Acho que a lição é conseguir aprender a viver sem depender de nada nem ninguém, mas ao mesmo tempo dependendo de tudo e de todos.
Em palavras mais simples, a solução é confiar em si mesmo e no processo que estamos passando no momento.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Boneca de lata.



A desagradava aquele percurso nítido em meio à multidão. Olhava o rosto dele vindo de longe, que com carinho lhe fitava. Mas a moldura que via em sua mente do quadro que iria surgir nos próximos minutos era de vidro e corte, sangramento e dor.
Ele sentou com ela na porta de um botequim qualquer já fechado. Ela apertou as pontas do casaco contra o peito, acendeu seu cigarro e sorriu, olhando para ele.
- Que foi? - Ele perguntou.
E ela pediu:
- Deixa eu ser tua amiga?
Ele deu uma alta gargalhada e a beijou ligeiramente.
- Mas que bobagem, nós já somos amigos, somos mais que amigos!
Ela sorriu com apenas um canto da boca e tragou em silêncio olhando para uma árvore qualquer, com cem milhões de pensamentos na cabeça.
- Não é isso, é que eu não quero isso pra mim. Essa relação que a gente tem tá ficando cada vez mais séria. E relacionamentos só complicam. Eu gosto tanto de você, mas não posso mais continuar com isso. Acho melhor sermos só amigos.
Lágrimas corriam nos olhos dele, que virou o rosto para que ela não visse a fragilidade que aquelas duras palavras haviam lhe causado, mas enfim a deu um beijo na bochecha, levantou e partiu com o coração quebrado e deixando o silêncio mudo e indiscreto tomarem conta dos pensamentos dela.
Ela sorriu, tragou seu cigarro e foi para casa dormir seu sono pesado.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

IGREJA CATÓLICA

1) Calou a boca na 2a guerra e não fez nada contra Hitler e Mussolinni. 
2) Apoiou a ditadura no Brasil abertamente 
3) Bento XVI até agora não fez NADA realmente contra os padres pedófilos. 
4) São contra o uso da camisinha. 
5) Recomendam voto em José Serra.
 
 
Nem Dilma, nem Serra, nem Igreja Católica.
Meu voto vai para a paz. O vazio. O branco invadindo as cidades como uma tsunami. Recomeço. Consciência. O povo precisa.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Caro Sr. X,

Lamentamos informar-lhe que você foi desclassificado e considerado desqualificado por perda de encanto mútuo, destruição da magia de primeiros encontros, infenso à paixão, corrobora o nosso asco por romantismo exarcebado. Obrigada pela tentativa, esperamos que tenha mais sucesso na sua próxima jornada em busca do surreal e inexistente conto de fadas. 
Att,
Empresas Bárbara's destroyers.
#prontofalei.

Yeah, yeah, yeah... babe.

Eu levo uma vida desregrada, com muito álcool e vida noturna.
Acordo às 4h da tarde de terça com o barulho do aspirador e uma dor de cabeça dos diabos. Só tenho flashbacks da noite anterior e fico sabendo o que fiz pelos amigos.
Não me assusto mais por ser abordada por pessoas desconhecidas que sabem até o nome do meu papagaio japonês sem asa e que não cansam de falar das altas conversas e filosofias que eu disse numa festa que nem sei qual é.
Eu não pergunto nem onde é a balada, mas o que vai ter pra beber e o quanto, e prefiro ficar na rua com uma garrafa de qualquer coisa na mão do que ir à exposição de um escultor do Alberjistão do Norte que todas as pessoas dizem ser maravilhosa. Conheci todos os namorados em festas e só quero ter como amigo as pessoas que conseguem virar vodca quente tão rápido quanto eu.
E, sim, meus queridos, eu tenho meu nome associado ao quanto eu bebo, eu conheço todos os donos dos bares, eu tenho conta neles. Eu conheço pessoas estranhas, pessoas loucas, pessoas felizes.
Eu não quero namorar, eu não quero casar, eu não quero me apaixonar, eu não quero um compromisso com ninguém. Hoje em dia, tenho fissura pela racionalidade sentimental.
Sim, sou taxada de LOUCA pela sociedade moralista. Mas uso meu livre arbítrio todo santo dia para fazer o que eu quero, para fazer bem para os outros, para ser feliz, e se eu estiver me fazendo mal, aguento as minhas consequências.
Que você fale, diga e pense, querido... o que bem entender de mim. Eu sei exatamente quem sou, e tenho muito orgulho, pois estes são os melhores anos da minha vida!
E lembre-se: A vida não deve ser uma viagem para o túmulo, com a intenção de chegar lá são e salvo, com um corpo atraente e bem preservado. Melhor enfiar o pé na jaca - Cerveja em uma mão - tira gosto na outra - com um corpo completamente gasto, totalmente usado, gritando: Valeu! Que viagem!



sábado, 9 de outubro de 2010

Os traços e linhas daquela boca traçavam o percurso retilíneo e movimentado pela minha estrada de chão, chegando em linha reta aos meus desejos mais profundos e secretos.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

.


Choveu. como havia de ser, choveu.
Choveu. pra coroar todo o fluxo de pensamentos, pra lavar todos os nossos pecados. para nos trazer de volta antigos sabores, para nos fazer sentir alguma coisa quando toca coldplay e quando a gente vê tocar no barzinho aquela música de MPB que nos traz um gosto de cítrico na boca.
E aquele moço que falava estranho parado me olhando e riscando no papel com seu lápis os traços que ele via em mim. O grafite que me via era mais bonito que a pele propriamente dita que eu carregava.
A cerveja, o cigarro, o rock, a bossa.
O irmão de minha alma que me acompanhava, com seus olhos brilhantes de artista, e cantava as dores do mundo sem filosofia.
E um único gesto insensato trouxe aquele gosto de saudade na boca. Uma saudade de um lugar que não estava ali, de uma música que não poderia ser tocada, de um grupo de amigos que não chegaria nunca.
Um único gesto insensato havia me custado a sanidade naquela noite.
E havia ainda a vontade de vê-lo. Não sabia o que me afligia mais o coração, se era aquela vontade louca de ver ele, ou o abismo enorme que nos separava. Ele estava bem, mas do outro lado do país. Como era de se esperar, mais um ato insensato. E eu escrevi aquelas linhas em dois minutos, escrevendo tudo que meu coração bêbado poderia dizer. Em minutos, a resposta veio, com amor saindo por todos os cantos daquele aparelho tecnológico bendito.
E então a minha noite mudou.
Sem arrependimentos, apenas uma constatação.

Você é um grande homem. 
Eu sempre vou te amar.
Obrigada pelo amor dedicado.
Obrigada pela amizade.
Obrigada por perdoar os meus erros infantis.
Obrigada por todos aqueles anos maravilhosos comigo.
 Obrigada por ter me amado e cuidado de mim.
Obrigada por continuar cuidando.
E mesmo quando você não está aqui, você é o mais presente
nas noites de medo do escuro, nas praias, nas pescas, nos sushis.
Você é o homem dos sonhos.
E agradeço por ter participado da minha vida,
me ensinando e somando.
Juntos construímos só coisas boas.
O tempo acabou, mas o momento será eterno.



quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Não, meu bem, não adianta bancar o distante:    lá vem o amor nos dilacerar de novo...


[Caio F.]

E eu adoro.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Cócegas.Comer.Carinho.Cabelos.Caso.Carne.Cama.

O ser humano necessita do prazer.
Aquele bichinho que caminha pelo corpo, percorrendo as entranhas com suas garras que fazem cócegas.
Sem ele, nada feito, adeus mundo cruel e um tiro no pulso na cabeça para despedir-se.
É por isso que eu repito [e repito, e repito]:
Um brinde aos prazeres que a vida oferece. Aos atos mundanos.
E viva a manteiga! ;)


O mensageiro dos bons ventos.

Pela sua valentia e ousadia sem porém. Pela sua voz doce que canta, me encanta, e tudo bem. Me faz tremer diante dos teus olhos verdes, me faz sorrir e gargalhar diante da tua sem vergonhice.
Pelas cicatrizes da estrada, pela pele bronzeada, pelos beijos com sabor de morango mordido. Pelos teus pedaços sortidos que com calma eu roubo, pouco a pouco, como uma gatuna discreta, até chegar a hora certa que todos os teus pedaços estarão comigo.
Por tudo isso não sinto mais saudades daquele tempo em que meu corpo entrava em ebulição, em que eu acreditava na paixão, em que eu tinha esperanças, sonhos malucos e rendição.
Depois daqueles tempos, eu tive o meu tempo, e então, tive você.
Depois disso, as pessoas ficaram mais bonitas, os sorrisos mais sinceros, a esperança cor de águas claras, os sonhos mais concretos, a paixão na porta de casa, o vulcão em erupção, o rouxinol cantando a sua canção, os outdoors mostrando você.
O mensageiro indiscreto do meu bel-prazer.

;)

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Roda gigante.

Àa vezes a gente cansa da hipocrisia do mundo, da falsidade das pessoas, de ter que sorrir quando se quer mesmo é socar e dar um tiro de bazuca. 
Às vezes o trabalho maravilhoso fica chato e a gente finge que aguenta enquanto estamos tendo uma síncope por dentro.
Às vezes a gente sente vontade (muita, mas muita vontade) de colocar pasta de dente no travesseiro daquele colega de apartamento que tem em seu coraçãozinho os sete pecados capitais e cospe fogo aos quatro cantos do mundo.
O que fazer?
Colocar os pés num balde de água quente e pedir ao papai do céu paciência. (Sim, meus queridos, pa-ci-ên-cia, porque se ele me der forças eu bato até matar).
Porque em pouquíssimo tempo vai chegar a hora que uma coisa simples, porém incrível particularmente pra mim vai acontecer e eu  vou sorrir e relaxar, gozando cada minuto daquele momento celeste. A paz que estas tenras e doces horas me trazem acalmam e clarificam as águas do meu oceano. E eu já não ligarei mais para todo aquele resto que me inquietava.
A vida é assim meio roda gigante, só nos resta abrir os braços e aproveitar o frio na barriga quando estamos no ponto alto dela. 
E assim seremos grandes.
E assim sempre teremos forças para suportar o ponto mais baixo da nossa roda da vida.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

J’aurais besoin d’un aller simple, s’il vous plait.

Era fria como um destes continentes árticos que faz nossa pele agulhar de dor.
Tinha cubos de gelo incrustados na carne, e sentia orgulho de ser assim.
Ela era também fulgaz como aquele vento frio que bagunça nossos cabelos e faz nosso nariz ficar vermelho.
Perpendicular a isso, era afável. Intensa.
Doava carinhos demais, palavras doces, sorrisos. Gostava de recebê-los.
Tinha sempre estes dois lados, e os dois eram fortes demais para que um aparecesse mais que o outro, então os dois eram predominantes. Ela era duas, e estas duas tinham pólos opostos.
Difícil entendê-la.
Era agridoce. Discreta e estabanada. Intensa e sutil. Um pouco louca, um pouco sanidade. Um quadro típico metamórfico de dualidades reversas. E adorava ser isso.
Era aventureira, gostava do perigo, do risco, de se atirar de um avião com um pára-quedas e de cair em queda livre. Amava sentir correndo em suas veias a adrenalina. Idolatrava o prazer de viver intensamente.
Mas com amor não podia .Não queria. Temia.
Ela era a fuga do fulgaz prazer que o amor oferecia. Era fugitiva.
Não era do tipo que andava de mãos dadas como discretas algemas cabíveis na sociedade. Não gostava de receber flores bonitas que já estavam morrendo com o passar das horas. Não queria a luz das velas que se apagariam com o sopro de um sussurro.
Quando isso acontecia, ela desaparecia.
Deixando para trás algumas lembranças doces do seu jeito maluco, dos seus rastros de lama no tapete, do perfume de flores no casaco, dos fios de cabelo no sofá, da música que cantava sem saber, das gargalhadas banais, da alegria medonha de quem faz o errado parecer certo e faz o certo de forma errada.
Estas lembranças ficariam guardadas nas memórias ou nas gavetas de alguém.
E ela voltaria a aparecer, gargalhar, cantar pelas avenidas de outro alguém.
E quando tudo parecesse maravilhoso de novo naquele novo mundo, algo a inquietaria, a faria mover os pés, as pernas e os braços sem olhar para trás em direção ao cais, ao aeroporto.
Mostrando o passaporte ela novamente diria sorrindo:

- Preciso de uma passagem só de ida, por favor.









(Mas hoje eu acordei com vontade de correr. De ir embora, de ficar. De nunca mais ter que brigar e fazendo tudo que eu prometi nunca mais fazer.
Minha dualiade não machuca ninguém mais do que a mim. Eu sou confusa, perdida, intrusa em mim mesma. Sei o que é certo mas acabo fazendo tudo errado. Eu sou o erro encarnado. O medo, o anseio, a tia do menino de olhos azuis que precisa sempre sorrir de volta.
Eu quero que passe logo, quero ser jovem pra sempre, quero ter maturidade, quero parar de me machucar e de machucar quem gosta de mim. Quero parar de me defender atacando e de chorar em propagandas de margarina..
Não quero ser eu.)

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Intrínseco

Seus olhos esbanjam luz. .
Um brilho amistoso que convida a se banhar naquelas águas calmas de intolerância.
Olhos pretos que clarificam sua alma de artista.
No timbre, temperança, contentamento, exuberância.
Como um pavão que ao desfilar pelas alamedas enfeitiça os caminhantes de tal jeito que não conseguiam parar de o olhar.
Esguio, numa pintura plena de poderes brancos e mágicos gestos, que fazem os nós desatar.
Um alforriado, dourado,  atento aos que nada têm, teme pelos que avarentam o que ele retém.
Virtuoso, vicioso, vicariante, vicinal ao majestoso.
Lânguida face concomitante à sua bravura dura como diamante.
Externa o que lhe convém, grita com o que não lhe cai bem. Ama e aquece aquele que lhe alumia.
Esfria o fogo e o brilho de quem no breu vive cada dia.
Às vezes maré cheia, às vezes esvazia.
Corre pelas ruas a cantar com os bispos, mendigos e prostitutas.
Corre pelo mar a nadar nu gritando pela liberdade da poesia.
Revoluciona as mentes com a maturidade da sua filosofia.
É belo e technicolor.
É poesia transbordante;
Meu sol, meu astro flamejante.
Tanta vida ele cria e mantém.
Luminoso na fronte azul do crepúsculo.
E quando me perguntam: É teu irmão?
Dou um sorriso orgulhoso e digo:
Sim,
de alma,
de coração.



Uma pequena homenagem ao meu querido, Matheus Ocon.

Amarelado

Hoje encontrei teu cheiro
Numa camiseta cinza
Perdida em meu armário
Tinha o odor embolorado
Ocre musguento e fétido
De amor esquecido há tempos
Na geladeira

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Deixa tua boca comigo

Quero bebê-la de vez em quando sempre

Molhar minha vida em tua saliva

Ter companhia para me descobrir.
Hoje combinamos 

de nos amar,

só até ontem.


segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Amolenga.

Acordou com os braços dele enroscados, amarrados nela. Suspiros e sorrisos, cócegas e pés gelados.
Abraços com jeito de borboletas no estômago. Beijos com sabor de chocolate em calda quente.O coração entregue, fremente.
Gargalhadas que há tempos não via em si. Sons de um coração saltitante. Cores e luzes brilhantes. Era ela alegria. Era ela maçã verde. Era agora radiante.
E nesse súbito e desencontrado encontro, onde nada mais existia, exceto os pares de retina apaixonados, mais ainda, as bocas que se suplicavam.
Os olhos ficaram para depois. Santos retificados, e o amor que chegou de pronto no tempo das canções.
Beijos com um só riso, ela se aconchegou logo em quase nada - e que era tudo - Fez de um abraço, paraíso.
Ainda que tivesse anos para aproveitar à beira mar, sozinha no aprendizado do seu ser, caminhou na direção dessa descoberta nele, e decifrou aquela beleza quente e morena de ter. De um jeito tão pouco usual, encontrou ele a descobrindo numa esfera real, encontrou açúcar, doçura, carinhos e seda pura.  Olhos fechadinhos e sabor de fruta madura.
Nesse lugar deles a poesia não está nos versos, mas sim em cada gesto e no universo daquele olhar.
Ela veio do ar, ela veio para amar.
.
.
Ele também.

domingo, 26 de setembro de 2010

Para me entender, taí o manual:

A mulher de aquário

Quando estão amando (veja bem, eu disse a-man-do mesmo) as aquarianas são extremamente fiéis. Pode confiar. Bem, mas não vivemos num mundo perfeito né verdade? 
Compensando sua dedicação, a aquariana é dotada de um alheamento e falta de emoção em relação às pessoas, que é de se apostar todas as suas fichas como ela não está tão afim de você. Mas ela está. Basta deixar que ela se envolva com sua deliciosa lista de 6 bilhões de assuntos que ela precisa pesquisar e descobrir. Bem como seus outros 6 bilhões de amigos (um em cada canto do universo). O maior erro que você poderia cometer na sua vida seria amarrar os pés das discípulas do vento, ao pé de uma cama.
Acostume-se. 
Passe a encarar com naturalidade o fato de que ela pratica capoeira, lê livros em cima da árvore (não embaixo), e decide passar as férias trabalhando como voluntária da Cruz Vermelha. Lembra quando você a viu na TV amarrada na árvore que iam derrubar? Pois então. Ache normal. 
Ela é a única por onde passa a idéia de perseguir uma estrela cadente, enquanto todos os outros estão concentrados em realizar pedidos. E olha que eu ainda não cheguei no principal.
A aquariana não pertence a ninguém porque ela é de domínio público. Elas insistem e precisam ser livres. No entanto, a pessoa que aceita os seus termos, terá sua profunda admiração e devotamento. Ela sabe que não é fácil.
Devo dizer que paixão realmente não é o forte delas
São como borboletas:
imprevisíveis, vivendo de acordo com seu próprio código, em sua trajetória singular. 

No fim da história, ela sofre de um medo secreto de se apaixonar demasiadamente por alguém e acabar negligenciando o mundo e todas as outras pessoas que precisam dela, e vice-versa.
Seu temperamento, bem como o amor que dedica, é definidamente impessoal. A aquariana ama mais a humaninade do que o ser humano
Então elas não demonstram o que estão sentindo muito facilmente
As palavras com as quais elas expressam o seu amor são frustrantemente limitadas. 
Ela pode ser como um flamingo posudo e elegante nas mais diversas situações, mas em matéria de amor ela se transforma num ogro estabanado
É muito comum que ela viva confundindo amor e amizade tamanho seu desligamento com questões de espécies mais quentes, digamos assim. 
Há muita coisa linda e maravilhosa pra se ver por ai do que sua cara todos os dias, é o que ela pensa.
É dificil, eu sei. Mas se você está apaixonado por uma mulher dessas há de reconhecer: nunca você acreditou tanto em mágica como acredita agora. É nítido como as aquarianas realmente se destacam. As aquarianas são a cereja do bolo simplesmente porque elas não fazem parte daquele lugar.
Ela é internacional, onde quer que ela esteja.
Não é ótimo? Você pode ter um produto importado, que prevê o futuro, sabe de tudo que está acontecendo e que ainda te ama nos dias em que você se sente menos amado, e é carinhosa como uma gatinha manhosa. Tudo isso pelo preço de você não ser tão conservador e reservar sempre uma boa mente aberta. Elas são perfeitas artistas e grandes mulheres.
 

Recebi do Lú.

sábado, 25 de setembro de 2010

Ele a beija.


Ela: Eu não posso fazer isso. Ter você é como se eu comprasse um novo par de sapatos, mas que não servisse em meus pés.


Ele: Então vamos ficar um tempo descalços,

;)

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Um pouco de cor

No meu mundo particular os pássaros cantam Chico Buarque, as árvores têm frutos doces e coloridos, o sol brilha e rege a orquestra do céu, para os pássaros acompanhar.
A grama é de algodão macio pra todo mundo, quando quiser, deitar. Chocolates e batatas fritas são tão permitidas que têm em cada esquina, junto com os expressos de café e as manjubinhas.
Tem rios terapeuticos e medicinais. Os mares são templos de meditação. Todos os animais são sagrados e de estimação, todas as cores são fluorescentes cores de tentação.
As flores não murcham, viram borboletas, que no céu lançam boa sorte a quem as notar, as vê passar. O arco-íris tem tesouros mágicos, desses que a gente encontra quando é criança, pra todo mundo brincar.
O teletransporte existe, feito pra não ter saudade e pro mundo todo encontrar o seu lugar sem dor nem despedida.
Lá, todos são artistas natos, feitos para encantar.  Existem grandes saraus onde todo mundo é respeitado e bem sucedido.  Chaplin anda pelas ruas a desfilar.
Nem escambo, nem dinheiro. A moeda é o amor.
As crianças brincam e correm sozinhas pela cidade. Desbravando novos horizontes além do portão de ferro, e as pessoas são felizes.
Lá, indiretas não existem, apesar da juventude ser a característica de todos. Pequenos jovens, grandes homens brincalhões, alguns com rugas, outros com cordões.
E sendo todos jovens, amam, criam, cantam, gritam e tem energia suficiente para quando o potinho de felicidade acabar, começar tudo de novo, e de novo recriar sua feliz-idade, com mais maturidade.
Lá, a loucura é sanidade, que traz ao meu mundo a banalidade do riso farto, grande e corriqueiro.
Rotina? Não tem pressa de chegar, não.
Até porque, lá tem um grande furacão, e as pessoas saem a percorrer este mundo por vontade.
Sem remorso, julgamento ou torpor. Apenas a consciência da solidez, solitude. Apenas respeito, filosofia e educação. Jovens construtores sociais de sua própria evolução.
Todos necessários, só morrem com um hino de louvor quando todos os seus sonhos forem concretizados, quando todas as promessas forem cumpridas, quando terminar aquele dia utópico em que te tornas um sábio senhor.
Lá, apenas amor.





segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Podres poderes.

Alguém poderia me explicar a misteriosa prisão e iminente morte de Yves Hublet?
"Estava com câncer" - foi a informação simplória da administração do presídio.
Por ser um cara de evidente coragem ao levar à público seu desafeto com o governo e os escândalos do mensalão, Yves nunca mais teve sossego e teve que sair do Brasil, se refugiando na Bélgica.
A passeio pelo país, Yves foi para Curitiba e depois para Brasília antes de voltar a Bélgica.
Foi abordado no aeroporto, algemado e preso, com a "suposta" alegação de estar armado.

[ironia] Sim, porque o aeroporto de Curitiba deixaria alguém embarcar armado. [/ironia]

Depois de preso, ficou tragicamente doente dentro do presídio sem que nenhum familiar soubesse, morreu, sem que nenhum familar soubesse e foi cremado sem que nenhum familiar soubesse.
[Num país onde a cremação custa rios de dinheiro e só é feita nos casos em que a família impõe tal circunstância]

VIVA A DITADURA DEMOCRACIA!
VIVA A LIBERDADE DE REPRESSÃO EXPRESSÃO!
VIVA O BRASIL!

domingo, 19 de setembro de 2010

Paralelos no infinito.

Sábado na solidão.
Tomou um banho, se arrumou, olhou no espelho e sorriu.
Saiu de casa, pegou aquele elevador lerdo, deu bom dia ao porteiro e foi para a rua.
Sol a pino, calor desértico e sufocante. Pássaros, graças aos deuses, pássaros.
Mecanicamente pegou o metrô e foi até lá onde as lembranças dele povoavam.
Enquanto ouvia os sons do metrô caiu em si e já estava naquele mesmo bairro de antes.
Lembranças que por muito tempo povoaram seus sonhos adentravam sua mente agora como um furacão. Cada cheiro, cada florzinha e cada pessoa que trabalhava por ali lhe davam aquela sensação de frio na barriga como quando encontramos algo que amamos depois de muito tempo.
Caminhou o dia todo por lá, sentou no banco daquela praça, entrou pela primeira vez naquela igreja, comeu pipoca, tomou um café, até que cansou.
Levantou preparado para pegar aquele metrô de volta pra casa.
Quando ia embora, ouviu um grito:
- Roberto!
Olhou pra trás, e era ela. Ela, ela, ela, a sua.
Incrédulo, com o coração em disparada, as mãos suando, o tremor, o calor e a emoção daquela hora tenra e cálida.
Nem nos seus sonhos mais bonitos essa cena aconteceria. Ela estava ali, bem à sua frente, e tudo o que ele pode dizer foi um fraco e fino "oi".
Como traduzir o silêncio deste encontro?
Olharam-se por minutos, num encantamento contente de quem se encontra depois de ter se perdido há anos, como a magia do encontro de paralelos que se cruzam no infinito.
Ele sempre procurava ela nas coisas boas, e quando não achava, ele a inventava nos detalhes dos caminhos em que andava, para nunca ter que esquecê-la.
E agora com ela ali na sua frente, apenas a quietude.
Fios de segundos e o silêncio se quebrou com um sorriso, do sorriso um riso mais que liso, e um beijo.
Haviam os dois guardado as promessas em baús cadeados e jogado ao fundo do mar, como tesouros escondidos de rainhas francesas, e nada mais faria com que se encontrasse a chave destes baús, a menos que mergulhadores os encontrassem e o tesouro ficaria em algum museu, perdido para sempre em fotografias.
Aquele beijo despertou os sentimentos reprimidos, os detalhes esquecidos, uma saudade revigorada e um coração batendo forte no tempo do vento.
Caía o orgulho com a noite, e o amor se mostrava conforme a lua. Sem dor, sem tédio, sem crise, sem rasgar o passado, apenas o álcool e o riso, a fórmula do amor.


(Depois de muito tempo, este foi o primeiro dia das nossas novas vidas.)


quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Indiretas

Porque gastas tantas palavras definindo o amor? Porque espera do outro que seja assim ou assado, que o outro seja sereno, tranquilo, paciente e perfeito, porque defines que somente isso é amar? Não vê que todos somos errados e tortos? Não percebe que erramos para acertar? Não vê que somos todos crus? Por que tantas palavras definindo o amor coladas nas minhas portas e janelas, como pequenas injeções de indiretas para mim? Amor é aquilo que a gente sente. E ponto. Os nossos atos diante desse sentimento dirão se ficaremos com ele ou não, mas isso chama-se causa e consequência. Amor é apenas amor. O sentido, o sentimento, o calor

terça-feira, 14 de setembro de 2010

French

Café da manhã em Copacabana
Água de côco, caldo de cana
Sentada na areia a diluir felicidade
Secretando com Deus minhas vontades
Uma nuvem negra tapa o sol
Um desconhecido falando enrolado
Do jeito engraçado, simpático
Pragmático, me olhava nos olhos
Do jeito malicioso
E dizia:
- Je suis fatigué -
Pura coincidência, sabia?
Eu ria,  matando minha agonia.
Matando a poesia que o mar fazia

Fotografias

Almoço naquele mesmo botequim de antigamente.
Um conterrâneo fanfarrão servindo toda a gente.

Uma senhorinha simpática que senta e conversa comigo.
Coisas que aconteciam no Rio antigo.

As árvores que reconheço.
Os momentos lembrados, padeço.

As memórias antigas, queridas, repentinas.
O calor, a praia, o frío na barriga.

O fio da navalha no coração.
Migalha do teu pão.
Engraçado, mas ontem a noite te encontrei.
Voamos de mãos dadas por um arvoredo e rimos com a cosquinha que o vento nos fez.
Tanto amor, senti.
Engraçado como tudo tinha aquela atmosfera de perfeição que só se estraga quando os olhos abrem com o grito do despertador.
Adorei te ver esta noite.

sábado, 11 de setembro de 2010

Concentração.

Ô mundão difícil.

Haja tato pra saber o que fazer em cada situação.
Eu juro que ainda não aprendi. Aí num rompante acontece o inimaginável e você começa a enxergar o fundo daquele poço que um dia você superou, e tudo bem... nada que um Prozac e uns pulsos cortados não resolva.
E quem é forte o bastante pra se conter com os empurrões ao abismo que a gente leva?
Tem uns e outros aí se achando forte, achando que o sofrimento não afeta as mentes humanas.
Até hoje não vi ninguém que tenha caído num abismo, ou simplesmente que tenha levado um tombo qualquer, levantar sem arranhões e marcas...

E tudo bem que as vezes a energia do corpo acabe, que a leveza que eu gosto tanto se transforme em toneladas, que o sorriso venha acompanhado de sarcasmo ou educação... Tudo bem.

Tudo bem que é obrigatório para ser humano não entender que as palavras que são ditas ficam encravadas na nossa carne, e quando desditas, levam um tempo pra cicatrizar... então melhor não encostar, não lembrar, não mexer pra não sangrar. Mas mesmo assim até a mais serena das criaturas machuca as outras com palavras não pensadas.

Aí eu guardo as minhas fraquezas num potinho, e tento lacrar bem a tampa... Mas basta uma distração, uma bem pequenina, que ele abre mesmo assim, e surgem elas pra me maltratar e sou eu quem começo a querer me guardar num potinho longe de tudo.

Antes eu saía a gritar por alguém que me salvasse...de mim. Isso porque eu me sofro demais. Agora já me vesti toda de branco, respirei fundo e me fiz um acordo de paz. Me embebi em concentração pra tentar me fazer rir a toda hora e a todo custo... Mas descobri que também tem hora pra não rir.

E eu já fui uma dessas sozinhas sem-amor que jura que não precisa de ninguém pra ser feliz e saí em desatino por aí a beijar bocas vazias e cheias de tédio. Então eu olhei pra mim, olhei bem pra mim... e tinha um buraco vazio bem aqui dentro, que às vezes crescia e me fazia desaparecer. Acrescentei mais algumas clausulas no acordo... Melhor que paz é amor. E comecei a amar demais, demais mesmo. Intensa, eu fui e sou. Mas amar demais funciona? E se machucar? Voar alto só dá um tombo maior?

Então eu agora começo a entender porque existem essas pessoas meio invísiveis que a gente chama de "sem graça". Não são engraçadas, são tímidas e só vivem de trabalho e estudo, certinhas demais. É ó-bvio! Isso tudo é precaução... ninguém quer sofrer demais!!!!
E quem vive intensamente sofre mais que o normal, sofre até tomar veneno de rato e chora até vendo novela de Manoel Carlos.
É... haja concentração pra conseguir ter precaução e viver uma vida "sem graça" e sem dor.

Sem dor. Sem dor.



REPOSTAGEM do dia 26/02/2010

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Menina das meias trocadas

Guarde minhas meias
Como a minha saudade
Guarde o gosto do meu beijo
Com o cheiro da minha vontade

Menino de all star
Com o jeito meigo no sorriso
Com as mãos de um amante
E a perfeita pureza que carrega no olhar

És leve como o vento, grande como o mar
E tem asas de pássaros alegres
Perdidos no mundo,
Entregues ao tempo, soltos ao ar

Menino de xadrez,
Com sonhos não tão meninos
Beleza na trágica juventude
No teu cenho liso, solidez

Amo como os poetas amargos
Que somem durante o dia
E à noite, no entanto
Me entrego aos teus encantos.

E sonho contigo, corro perigo.
Meu pranto.

sábado, 4 de setembro de 2010

Não, Bárbara.

Tanta gente que nada de mim sabe a me olhar e dizer tantos nãos!

- Não, Bárbara, você não foi, você não fez, você não está fazendo.
- Não Bárbara, aquilo não era legal, aquilo não era dor... aquilo nunca foi amor.
Que eu paro e penso: Quem são eles? Quantos erros já cometeram? tentando fazer a mesmíssima coisa que eu, você e todo mundo tem tentado: SER FELIZ.
Quem são para me dizer que o meu peito rasgado não era dor?
Que as coisas que por ele eu senti nunca foram amor?
Mas eu vou, ainda que cheia de julgamentos e negações.
E cada "não" atravessado na minha estrada será um passo a mais que eu darei em minha existência.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Manjericão

Não me aprisione
Não tente me fazer ficar.
Não me queira,
Não me questione,
Nem tente por mim se apaixonar.
Eu vou te fazer chorar.

Eu sou assim, ardida
Cruel e sem coração
Sou intensa partida
Sou só manjericão
Numa vida bandida
E magôo sem notar.

Eu não choro, não sinto
Não vejo flores no jardim
Não falo de amor
E não vejo motivos
De você falar por mim.

Desapareço sem saudade
Sou vulcão que arde no fim
O divã da insanidade
E no silêncio de uma prece
Sou nuvem que desaparece

Música Interior

Tem dia que eu fico vazia. Não aquele vazio melancólico que te faz dizer "estou com um vazio no peito". Um vazio devagar que gela por dentro, faz querer mergulhar no chão. Fechar os olhos e dançar, dançar, dançar loucamente, dançar, fumar, dançar, beber, dançar, entrar na música, ser a música, embalar meu próprio corpo que dança, cair exausta em uma piscina gelada e ficar lá no fundo por horas, horas, horas. Sem morrer. Vazio não é vontade de morrer. Vazio não é vontade de nada. Vazio é vontade de sentir. Já sei. Vazio deve ser o não-sentir e a ânsia de sentir que acompanha o não-sentir. Não quero você agora. Mais tarde, quem sabe. Não agora. Sinto sono e a vontade agoniada de dançar. O sono fecha os meus olhos até a metade. Não devia ter dormido tão tarde ontem, meu corpo já não agüenta. Pouco mais de duas décadas e os anos já começam a pesar. Que injusto! Talvez não, corrijo. Há alguns séculos as pessoas não esperavam viver muito mais que três décadas e eu exigindo a eternidade! Mas eu não quero viver para sempre, isso não é verdade. Eu só quero dançar e dormir. Estou sem conseguir me importar. Quero um pause. Faz calor e os passarinhos não calam. Quero dar uma volta de carro e enfiar minha cabeça para fora da janela, sentir o vento embaraçar meu cabelo e não me importar. Hmmmm. A fome. Enfim, sinto algo. Acho que vou almoçar.

A minha razão.

Bobo é quem vive sem insanidade. Pacato, chato, sutil demais.

Quem não tem uma saudade alva com pinceladas pretas?
Quem não sofre, quem não se esconde no quarto e põe aquela maldita música só pra chorar um pouquinho mais, pra se olhar no espelho e ver que a dor inchou a pele e manchou o coração, e que o buraco que se abriu (e que só a gente pode sentir) é tão fundo que chega nos pulmões e faz o ar faltar?
Quem, depois, não descobriu que existe muita estopa neste mundo que tape esse buraco? E que depois de descobrí-la a gente ri dos tempos em que chorávamos alto, do tempo que ainda doía.
Quem não faz uma loucura como sumir no mundo e ir para a Indonésia ou Scandinávia, porque queria se encontrar? E descobre depois que a gente só se encontra quando está em casa, com coisas que amamos, com as pessoas que amamos, nas situações que amamos. E que as aventuras nos servem, e muito, para uma boa aula na faculdade da vida.

E qual o louco que não é feliz?
Cada louco inventa a sua realidade, mas que seja uma dessas que faça com que os dias sejam de sol, e as noites de lua cheia.
Que se faça o que se quer, que não se tenha medo de realizar os sonhos, as vontades, de dizer a verdade, de sair pelo mundo a gritar, a dançar no meio da rua com seu par, a amar, a se apaixonar sempre e mais, e ser feliz com a sua própria fantasia, sem se importar se o mundo o aponta, o enfrenta ou o atormenta.
Mas ainda tem tanta gente querendo se encaixar. Querendo pagar o pato pra ser aceito, vendendo a alma ao diabo pra ter respeito que eu nem sei mais quem é o louco na verdade.
Tem tanta gente em emprego chato pra ficar rico, tem tanta gente tentando comprar o carro do ano porque é bonito, tem tanta menina que ainda nem seio tem e faz sexo com desconhecido, e tem tanto menino de rua dando sorriso, que eu nem sei mais que é o bobo e quem é o banido.
Melhor excluído, do que bem sucedido e sem felicidade.
Só sei que nunca é tarde demais pra se ter paz.
De nada adianta ser um pássaro quando se está num cativeiro montado por você mesmo.
Liberte-se. Sonhe. Enriqueça [o coração].



Eu tenho vivido sem moderação.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

"Levas uma rosa ao peito
E tens um andar que é teu...
Antes tivesses o jeito
De amar alguém, que sou eu"

(Fernando Pessoa)

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Murchas gérberas.

Triste sol da manhã,
Hoje surgiu para me sufocar
Deu-me mágoas num vulcão
E um reluzente clarão no mar.

Quem dera versos simples assim
Pudessem essa tristeza expressar
Tristeza soluçante que me rasga
Trazendo o infinito aguado da dor

Não há culpa, não há fé na desculpa
Não há senhor poente neste dia, doutor.
Quem dera os minutos passassem
Como águas ligeiras de um rio no vendaval

Quem dera fosse este o escrito
O mais sincero descrito
Que poderia ser dito inteiro
Hoje no meu funeral.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Elos rompidos.

Queria ter uma pedra nos pés
Pra não mais voar por aí,
Pra não perder mais restos,
Pedaços de mim que eu deixo escapar
Queria ficar e mais vezes te abraçar
Abraços perdidos, abraços partidos
Queria ter a chance de me desculpar
Com os elos rompidos que trazem meu olhar
Claro, eu estou indo embora.
E não há mais a chance
De eu me perder neste teu olhar.
Será?

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Rasgando o vestido rosa de cetim.

Houve aquele tempo de cegueira
Em que eu só obedecia
Não ousei, não ultrapassei.
Nada fiz fora da tua lei

Em tuas normas me criei
Com suas regras eu cresci
Dentro das leis eu me mantive
Em troca, nenhum louro recebi.

Nem ao menos em pensamentos,
Eu conseguia me libertar.
Eram grilhões nas asas coladas,
E uma arma na língua afiada a me maltratar.

Hoje coloquei fogo nas amarras,
Me despi no meio da praça,
Zombei da desgraça, ganhei graça.
Tomei um porre e fui nadar no mar.

Me embriaguei de atitudes,
Comprei minhas escolhas com teu ouro,
Arrumei as malas com as minhas virtudes
E mudei o timbre para discursar.

Hoje provei que ser adulto
Não significa estar certo ou errado.
Mas significa tomar cada decisão
Sem ter medo do resultado.

Sem ter medo de errar.




.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Anistiada No Amor;
Angústia No Alheio;
Amplexo No Amigo;
Ambiguidade No Anseio.
Tantas juntas em uma incostante revolução.
És 'tuana',
baiana,
mil anas,
Ana.
Anda pelos morros com a finésse de seu berço,
Dança até o chão nos bailes de quem tem dinheiro.
Feita para chocar, para iludir, para gritar e ser amada.
Para enlouquecer o pobre que não tem da insanidade um grão.
És tu, Ana.
Um dia de carnaval,
A graça que a vida tem pra ofertar,
Mil gargalhadas em um funeral
És tu a força que me faz levantar
És tu Ana,
profana,
urbana,
soberana.
Foi queimada viva, acusada
desceu ao inferno e já não teme nada
E retornou inteira, fabulosa.
absolutamente poderosa.
És tu, Ana.
No final, canta seu louvor
Sem arrepender os passos tortos.
Serás sempre a sutil tempestade,
Carregando o sonho, doando amor.

.
E de repente eu escuto aquela voz.
Tremi.
Eu tinha me esquecido de como era bom, e você me lembrou.
E se o amor é fantasia, eu me encontro ultimamente em pleno carnaval.
Ainda sinto o teu cheiro distante.
E quero ele na minha pele, em minh'alma.
Sou a menina das palavras.
Sou muito, mas muito estabanada com as ações.
Mas por ti, bicho querido.
Eu vou ao palato do mundo e o transformo mudo com minhas rimas.
Eu vou ao leão e o transformo camundongo com meus chicotes.
Eu vou a Judas e o condecoro Czar.
Eu vou a Deus e o faço trocar com Satanás.
Eu vou a Vinicius e o faço gargalhar.
Eu vou a você e te roubo pra mim com minhas ações,
Com minhas reações, criações,
Vou a você e te dou o que me dói, o que me trái, o que me ri, o que me satisfaz:
Amor por ti.



terça-feira, 10 de agosto de 2010

Tanto.

Querido,
Chorar por tudo o que passou não me transforma em alguém melhor.
Aprender com o que me dissestes, sim.
Tenho me estabanado tanto nas prateleiras da minha própria vida que não sei mais distinguir o que é vidro e o que é plástico.
Acontece que sempre precisei de ti pra me alcançar o que não quero quebrar.
E vou andando neste mundo como um tartamudo que tateia até chegar no seu  lugar.
Me parece tanto que meu lugar é um poço escuro!
Mas escutar tua voz me ditando palavras de um futuro me fazem alforriar a loucura.
É, parece que pra mim também haverá um brasão, umas flores, um amor e muita ternura.
Querido, mesmo assim, cada vez mais sinto aquele arrepio de que te falei...
Sinto minhas pálpebras tremendo e  minha boca seca te dizendo todas as verdades inatingíveis que eu tenho. Pois te disse, sim, todas elas, mesmo que não acredites!
Já que és o meu eunuco dourado, porque não ouvir minhas histórias verdadeiras?
Me tens para sempre, para sempre serei tua...
então escute o que meu passado te diz.
Querido, se for pra falar em futuro, me vejo agonizando secretos sonhos estrelados!
Que só tu e eu secretamos, mas que ainda me pegam de surpresa vez que outra fazendo a barriga estremecer de friiio,
Estou aqui lastimando agora, porque, mas porque não estou aí?
Querido...
Há tanta história de nós dois!
 Há tantas camas quebradas, risos na madrugada, salgados de almoço, janta e café.
Há tantos beijos cálidos, sexo sem segurro, paixão sem escuro, amor válido.
Houve tanto um te quero, te amo, te espero, te deixo.
Querido, há tanto ainda a perdoar, a tanto ainda a entender, há tanto a explicar, a agir, a escrever...
Há tanto de nós dois que nem entendo como este tanto não cobre o mundo e ninguém vê.
Talvez porque este nosso tanto, seja um tanto tão eficaz e tão forte que cresça a cada canto, a cada luz, a cada palavra.
Que cresça, esqueça e faça:

nós dois outra vez!