quinta-feira, 26 de junho de 2014

Gelou e choveu. O inverno dava sua graça beijando minhas bochechas enquanto você também gelado, sumia de mim aos poucos encarando face a face uma verdade que desta vez, tinha que ser dita.
Você sumia, ia desaparecendo no horizonte, caminhando no seu passo lento e calmo e suspirando paz como só você sabe fazer.
Eu fitava a cena, o horizonte, os pássaros e a chuva de uma manhã clara que alumiava os meus fartos pensamentos distorcidos. Dá uma puta dor fodida isso, de doer os ossos como naquela noite fria em que tínhamos poucas cobertas e as janelas estavam com lençóis pendurados pra impedir, sem sucesso, que o vento entrasse em nosso bagunçado quarto provisório. Uma puta dor fodida.
Eu tinha gravado na minha memória aquela tarde de muito calor e sol, em um verão divertido, que eu tomei 3 ou 9 banhos de mangueira e onde bebemos cerveja quente e falamos sobre bebidas, cigarros, cabelos, falta de cabelos, Ozzy, tornozelos torcidos, amor, sexo e bilhetes em papéis de pão. E rimos como crianças, escrevemos nas mãos como crianças, bebemos como se o mundo fosse acabar.
Enquanto eu via você sumir naquela estrada linear, eu pensava naquela tarde de sol, e confesso, senti agulhadas sutis em determinado lugar dentro do peito.
Por um breve momento, eu quis esquecer, mas Bon Iver invadiu o fone de ouvido.
''Amor magrelo, dure pelo menos até o final do ano'', e eu lembrei que aquele sofá-cama azul marinho era tão duro que ainda havia um calo em minhas costas desde a noite em que você subiu em cima de mim ao som de ''Losing my religion".  Eu lembro de rir mentalmente de tamanha ironia, eu perdendo minha religião, tentando me igualar a você, e eu sei que não consigo fazer isso. E a sua religião, que eu me lembre, é amor. Um amor bonito.
 E no auge da minha agonia, eu citava Shakespeare, porque realmente, não há Pepsi-Cola que sacie a delícia dos seus beijos. Eu sinto tanto por ter alguém roubando o melhor de você. Eu, um sócio, os cigarros ou o álcool.
Ne me quitte pas. E o quentão desceu tão redondo quanto aquela vodka gelada da primeira noite em que eu não descansei enquanto não bebi o resto do litro. O quentão aqueceu a pele, a alma e as partes mais geladas dentro do peito. Mais uns goles, subiu um negócio aqui dentro que me fazia querer te beijar e eu te vi ali, lindo me olhando, enquanto entalava dentro da minha garganta um pedaço de cravo que desceu arranhando até os ossos. Eu ri, pra disfarçar, parecendo uma gazela bêbada fazendo sons esquisitos, e enquanto o cravo desaparecia de vista, a sanidade tomava de novo seu lugar em meu cérebro.
Isso me lembra que só dessa vez, só nessa história, não fui eu quem vomitou no primeiro beijo ou ao ouvir eu te amo, e sim você, ao ouvir um abafado James Reyne. O que torna tudo mais diferente ainda.
Hoje a noite não tem luar, então nós dançamos em um quarto escuro, com a música baixinha e os pés lentos. Me abraça forte e diz mais uma vez que estamos bem. E nós abraçamos.
"Olha: o cachorro voltou a latir, eu catei os papéis do banheiro, você não volta mais, eu gosto de Pantera, eu também, mas porque caralho tem tanta Adele aqui? Galinha poedeira, não quebrei nada ainda, vou no mercado comprar água, esqueci a água, quero café, tô com azia, beijei a Paula, soquei a Renata, casei com Antônio, ainda vejo Roberto, acabou a bateria, os cigarros, o café. Arruma a cama, liga o carro".
Num movimento brusco, um abraço muito forte e um beijo longo, pra logo em seguida tomar mais cautela, virar o rosto e falar de como aquele sofá-cama pode ser duro. Num movimento brusco, um resquício, uma fagulha de alguma coisa doce saindo dos olhos. Num movimento nem tão brusco, o aperto e o desespero de arregalar os olhos para ir ao banheiro.
Lobo da estepe acredito na tua dor, chorava o celular enquanto eu te olhava dormir. Um anjo. Até começar a roncar feito o motor do caminhão das galinhas.
"Esse azar sobre você, como uma nuvem que não chove", eu ouvia. E ria.
"Você lembra de tudo?" - Incontáveis vezes você perguntou.
 Memórias presentes, ausentes, vívidas e póstumas.
Eu avisei, ela avisou, eles avisaram, você mesmo se avisou.
É essa minha puta necessidade de ir embora. Esse taquicardia que começa quando se prolonga o tempo nesse lugar onde eu morri pela primeira vez.
Essa corrida contra o ostracismo dos amores e tudo que deles provém. Mágoas, dores, rotinas e excessos.
Pode ser que eu não encontre nessa ponte o endereço.
Fugaz! Cara, é isso.
 É o fugaz que me comove, que me faz querer ficar só um pouco mais nessa estrada linear, pra ver o pôr-do-sol do horizonte enquanto você caminha pra longe de mim e eu jogo a bituca ainda acesa no chão, queimando qualquer coisa por perto. O fugaz e o café.
É tudo tão inconstante e breve, mas bonito, como a rima interna daquele samba que você odiou enquanto eu ouvia, branca de nostalgia.
Mas pelo menos dessa vez não ouve meias verdades ou uma fé imensa.
Amo, bebo, calo e vou embora. Porque nosso amor que não esqueço, e que teve seu começo numa festa de São João,  morre hoje sem foguete, sem retrato e sem bilhete. Sem luar, sem violão. Mas sobrou aquele Camel amassado, um isqueiro roubado e aquele calo dolorido nas costas.
E mais uma vez, como em outras histórias antigas, eu volto a cantar 'Somebody that I used know', enquanto andamos lentamente em direções contrárias nessa estrada.
Eu de casaco xadrez pra aquecer do frio. Você com a cabeça nua, pra gelar a alma.


(Eu roubei esses versos musicais como quem rouba pão da padaria).

quarta-feira, 18 de junho de 2014

Quelqu'un m'a dit
Que tu m'aimais encore
C'est quelqu'un qui m'a dit que tu m'aimais encore
Serait ce possible alors

Mais qui est ce qui m'a dit que toujours tu m'aimais
Je ne me souviens plus c'était tard dans la nuit
J'entend encore la voix, mais je ne vois plus les traits
Il vous aime, c'est secret, lui dites pas que j'vous l'ai dit

terça-feira, 10 de junho de 2014

Bebi café gelado, engordei um quilo. Ouvi uma história de amor e lixei a unha do mindinho esquerdo. Escolhi tênis para usar. Apaguei aquele e-mail que nunca li e não era spam. Pensei em você algumas vezes, mas não quero falar disso.

Assisti a um documentário sobre crianças psicopatas e descobri uma banda nova por sugestão do youtube. Tomei remédio pontualmente ao meio dia, como nunca faço. Quis beber cerveja no almoço. Entendi, mais uma vez, porque pessoas se drogam quando estão tristes. Embora eu não adie meu sofrimento. Cheguei à conclusão que a intensidade da dor ameniza o tempo que ela permanece na cabeça. E não vou chorar. Porque não consigo. E prefiro evitar o assunto.

Passei batom vermelho, mas escolhi um brinco pequeno. Dei bom dia ao meu irmão, as plantas do jardim. Fui feliz por cinco segundos. Pensei em sorvete de pistache, putaria, Tom Waits, teoria da conspiração e Ask. Comprei um quilo de patinho. Abri a geladeira, bem rápido, porque está frio e tive aquele medo absurdo de que eu congelasse. Joguei fora uma banana preta, que eu comprei há três semanas. Dormi três horas. Olhei pro celular algumas vezes, até que finalmente ele descarregou. Por fadiga, desprezo, medo, mentira, desinteresse, outra mulher mais gostosa ou algo que eu tenha feito e não saiba. Mas não vou pensar nisso. Nem beber em homenagem a isso. Por que não quero valorizar o momento. E também não quero falar sobre ele.

Escrevi uma poesia. Apaguei a poesia. Me olhei no espelho por mais tempo do que o normal, procurei brilho no meu rosto; nada. Me senti mais cansada do que o normal, com menos fome do que o normal e meu humor estava cabisbaixo. Tive medo de morder pessoas. Pensei mais do que escrevi. Escrevi mais do que falei. Baixei três episódios de uma série. Aquela. Aquela que. Esquece. Não quero resgatar nada. Nem falar de nada. Quero acordar no mês que vem. Quero acordar livre disso. Queria poder ligar o som para ouvir uma música animada. Mas.