sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

O caco que se esvai.

Eu estou cansada. Estou exausta. Sonho contigo todos os dias, e nos sonhos eu rio contigo em outros mundos, em mares mansos, em céus cor-de-rosa, amarelos e laranjas. Tomamos banho em cachoeiras em que a água é mais densa, podemos segurar ela nas mãos sem que ela escorregue, vimos faunas e floras que nunca existiram neste mundo aqui. E o mais importante é que estamos relaxados e muito felizes nestes sonhos. E como eu amo esses sonhos.
Mas sempre chega a hora de acordar, e a gente percebe que um sonho, por mais profundo que seja, sempre é um sonho. Um vislumbre de uma realidade que gostaríamos de estar vivendo. E como eu te queria aqui agora. Como eu queria. Eu tenho estado exausta, dormindo muito tarde e acordando muito cedo, com o fantasma das lembranças. Chorando escondida cada vez que tomo banho e fazendo forças sobrenaturais para ser forte e não pensar em ti a todo momento, porque quando isso acontece lágrimas escorrem deliberadamente no meu rosto.
Eu tenho sorrido até demais, pra esconder o vazio gigante que ficou aqui dentro de mim e a verdadeira face da dor que a minha face tem. Então eu resolvi que vou começar a escrever sobre ti, e essa postagem de hoje é apenas o prefácio. Quero te tornar imortal através das tuas histórias.
Eu tenho pensado no teu sorriso, em como tu me deu de herança aquela doçura e aquela mania chata de amar o mundo inteiro. De saber confiar nas pessoas, e de trabalhar muito duro pra se conseguir tudo aquilo que se quer. Nisso eu posso dizer que puxei a ti. Tu sempre foi tão engraçado. Divertia nossos churrascos de família, e falando nisso, QUE CHURRASCO tu fazia! Tu sempre ria do modo como eu sou estabanada, e costumava achar que eu era a guria mais linda do Rio Grande, e quando dizia isso, sempre me fazia corar. Eu me lembro quando eu tinha 13 anos e corri para a garagem nos fundos da casa pra chorar escondido o primeiro amor adolescente. O filho do prefeito de uma cidadela tão pequena que a avenida principal era só uma rua. Eu chorei muito, e tu, como todo pai que ama seus filhos incondicionalmente, deixou de lado o fato de que eu estava proibida de namorar, ou que ele era 5 anos mais velho, e então me abraçou muito apertado, pediu calma e disse que faria qualquer coisa para me ver feliz. Logo, começou a contar suas piadas e eu já estava rindo enquanto tu ia passar café e fazer torradas, como era de costume  nosso de todas as tardes. Eu nunca vou me esquecer daquele ombro amigo vindo de ti, na minha primeira dor de amor. Tu, que costumava odiar meus namorados secretamente, que fazia qualquer coisa para me ver feliz, que se dobrava em cinquenta para conseguir fazer da nossa vida mais confortável. E foi tão confortável, pai, que agora eu nem sei mais onde piso, porque me falta o chão sem tu por aqui. Me falta um pedaço de mim. Me falta tua ligação em plena segunda feira de manhã me dizendo que ia me levar pra almoçar. Dói tanto não te ter por aqui.

Segunda-feira vai fazer um mês que tu partiu deste mundo, e com o tempo as pessoas sentem mais dificuldade para lembrar do rosto, da voz, do coração de quem já partiu.
Mas eu ainda estarei aqui, neste blog, contando as tuas histórias para que o teu nome seja eternizado, teus atos de bondade, honra e amor, e também de como tu era engraçado, para que as pessoas sempre lembrem da pessoa incrível que tu foi, e das coisas incríveis que tu fez, da vida plena que tu levou e como tu partiu com a missão cumprida.
Te amo para sempre,


Da tua namorada eterna, e filha.

Bárbara Langsch

(Paulo Ricardo Langsch, vulgo Caco, foi engenheiro civil, e faleceu em 02.01.2015 vítima de um infarto fulminante, aos 52 anos.)