domingo, 29 de março de 2009

O bobo.



O bobo entrou na lona, sentou, olhou para a arena e riu.
Gostou do que viu, e esperou o espetáculo começar.
Olhou os malabaristas e riu.
O mágico fez ele brilhar.
Os elefantes o fizeram sorrir.
Comeu uma maçã do amor e riu com o açúcar que ficava entre os dentes.
O bobo de tão bobo era tão feliz! Ria de tudo e se satisfazia com pouco.
Vieram canhões, homens gigantes, mulheres barbadas, macacos dançantes.
E ele ria.
Ah, o circo fazia o bobo se contagiar com muita alegria.
Via as crianças em êxtase na arquibancada e percebeu que ele estava igual ou mais excitado que elas.
Pois ele era bobo, que de tão bobo riu.
Então entrou o palhaço na arena.
E aí o bobo viu.
Palhaço com olhar triste e voz cansada.
E sentiu dor pelo personagem que não conseguiu mentir nem para ele, um bobo.
Sentiu e viu o sofrer nos olhos de um palhaço triste.
Então, o palhaço tinha o semblante carregado.
Mas uma maquiagem que irradiava alegria.
Um grande nariz com uma grande boca sempre sorrindo.
Com grandes olhos e cheio de truques.
Truques que as crianças, e o bobo, adoravam.
Mas o bobo mais uma vez olhou e entendeu.
Lá estava o palhaço pulando e cantando.
Sorrindo e fazendo os outros sorrirem.
Como é triste aquele palhaço.
Como é engraçado ver as pessoas não notarem a tristeza daquele palhaço.
Não. Não é engraçado. É triste.
Triste desse palhaço que precisa se maquiar para sorrir.
O bobo se incomodava com o coração dos outros, porque era bobo.
E o palhaço tinha que ser como ele, um bobo.
De que valia ser bobo se nem o palhaço mais tinha a pureza da bobice?
E sofreu junto.
Ele sabe que chora o palhaço da sua tristeza, sorrindo como se a alma estivesse em festa.
O espetáculo terminou, o circo fechou e o bobo não mais riu.
Saiu do circo com o coração pesado e franzindo o cenho.
O bobo agora era triste de bobo que era, pelo palhaço.
Ficou com raiva, triste, sofria demasiado.
E quando saiu do circo, já não tinha alma de criança e riso assanhado.

Já não era mais bobo. Era o palhaço.

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