segunda-feira, 30 de março de 2009

Fui ser eu no fundo do mar.


Fechei os olhos.
Tapei os ouvidos.
Prendi a respiração e mergulhei.
Fui até o fundo daquele mar dentro de mim.
Vi os bonitos corais e paisagens submarinas que eu criei.
Não tive mais medo de procurar nos abismos.
Nunca tive tanta coragem,
até mergulhei sem meu escafandro de ouro!
Eu vi as minhas sereias, que dessa vez cantaram em notas de amor.
Andei no meu cavalo marinho chamado Scadufax,
Gargalhei com meu peixe palhaço que gosto tanto pelo que ele representa.
Vi o tritão que um dia eu amei, e agora eu sorri.
Vi as Nereidas, que me contagiavam com tanta beleza.
Cumprimentei meus golfinhos, que há tempos me traziam para a superfície quando eu me afogava em desespero.
(Onde estariam os tubarões que da última vez me aterrorizaram?)
E quanto mais fundo eu ia, mais escuro ia ficando.
Mas por alguma razão, alguma coisa dentro de mim brilhava.
Uma luz que fazia tempo que eu não via.
Meus olhos eram como lanternas, e meu peito parecia um farol!
E essa luz além de iluminar aquele lugar escuro e frio dentro de mim,
me esquentava, me dava aconchego.
Gostei tanto de voltar a ter essa luz. Uma luz alegre, risonha, infantil.
Vi Proteus, aquele deus do mar que mudava de forma, e ele me disse que eu não poderia esperar que as coisas durassem para sempre. Por isso ele sempre mudava de corpo.
E eu contei pra ele: Proteus, vou dar o melhor de mim agora e ser feliz! Quando acabar, quando a distância e o tempo longo engolirem esse momento de agora, só as boas lembranças vão ficar. Essa é a marca que o mar me deixou, e eu também quero deixar. Ao contrário de ti, eu não preciso toda hora mudar de forma ou de sentimentos.
E eis que meu oceano se limpou.
Não tem mais tempestades e nem sequer ondas.
Consigo enxergar meus tesouros perdidos que guardo com louvor,
Meus navios que já naufragaram, mas que continuam na imensidão da memória.
Consegui me enxergar dentro do palácio de vidro no fundo daquele oceano, o palácio que pulsa em batidas de emoção.
E eu era a rainha daquele reino plasmático imenso.
Nunca vi meu panorama com tanta paz.




(Mesmo sabendo que amanhã pode chegar o navio daqueles piratas que tentam invadir o meu oceano pacífico e roubar meus tesouros.)

Um comentário: