quarta-feira, 10 de junho de 2009

Paulatinamente
O rapaz cor-de-rosa
rouba minha pele
e suga de canudo a minha mente

Perdido e taciturno
Retira de dentro do âmago
A carne daquele órgão
Que iníquo fere fundo

A madrugada veste
o moribundo profano
E tua tez enrugada despe
o meu gasto terno de pano

Estátuas que restaram
Numa pedra que me reconforte
Corpos que empedraram
Na gélida foice da morte

O demente me causa invídia
Pois se mutila com terror
Passa a faca na sanidade
E dos pedaços ainda resta a verdade

Me retire deste espaço
Num furgão de sete cores
Pega a vela e ajoelha
Reza por minh'alma e minhas dores

Fiz de ti, do tato, de tudo meu algoz
Meu gemido de dor só sussurra
Que a felicidade é uma pílula pra dormir que fissura
Porque já não sai mais daqui esta voz

Estou de volta ao meu túmulo negro
De lá te mando flores secas de onde jaz
Vá sorrindo e não me olhe, ou volta
Senta aqui nessa terra e sente a paz

Arranca minhas tripas, minhas vísceras
Faz delas um nó e joga no chão
Pica, mói e dê aos porcos de ração
Não seja covarde e faça delas sua refeição

2 comentários:

  1. É! já vi que ela voltou e com tudo.
    Muito lindo minina Bárbula

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  2. Que bonito... Antonio Caeiro de saias! :)

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