quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

A graduação

Ela olhava aquela foto cor-de-rosa e agradecia. Agradecia a ele, aquele homem fantástico que foi seu professor, seu mestre.

No início ela não havia entendido o sentido do aprendizado nem a didática daquele pequeno grande homem barbudo que mostrava as coisas agindo, e não falando ou escrevendo, como a maioria dos professores. Não entendia bem os testes malucos, que testavam na verdade sua capacidade, seus atos. Foi reprovada muitas vezes. Sofreu e fez sofrer com a rebeldia de uma aluna desobediente.

Porém, após as aulas terminarem, ela sentiu muita falta dele.

Descobriu a verdade certa vez quando sentada na areia num momento crucial de sua vida um outro grande homem lhe diria uma das coisas mais importantes que ela precisava ouvir. Sentiu-se confortável e segura. Neste momento, ela fitava e desnudava sem escrúpulos as ondas em sua dança para Iemanjá, e conseguia entender tudo aquilo que o antigo professor, agora gravado na memória e na foto rosa, havia lhe dito.

Nas aulas, tudo isso era apontado de maneira sutil sem que ela percebesse. A vontade dela em ser o que queria, sua rebeldia, seu fantasioso riso gritante, suas frágeis mentiras, a vaidade que ela tinha em dizer 'te amo' milhares de vezes e acariciar cem vezes seguidas a mesma bochecha, achando que este era o certo. Tudo uma grande ilusão de uma cabeça infantil em um corpo de mulher.

Seu mestre só queria ensiná-la a crescer, e em sua infinita sabedoria fez isso de modo extraordinário:  fez com que ela entendesse por suas ações, por suas reações, pelo tempo despendido de sua vida. Ela entendeu, e foi nesse momento sentada na areia de mãos dadas com alguém que ela se descobriu mais velha. A idade era a mesma, mas ela já sentia a primeira ruga de seu longo caminho.

Não sentia mais a necessidade de dizer "eu" o tempo todo. Não precisava nem queria rir à plenos pulmões na mesa do bar. Não queria mais sorrir para quem não merecia. Não gostava mais de ser imprudente com sua responsabilidade. Aprendia a agir com mais racionalidade, menos impulsividade. Basicamente entendeu coisas muito importantes. Entendeu que quando se ama de verdade, não se deve tentar provar isso para a outra pessoa a todo minuto com palavras ou gestos fulgazes, mas sim nos momentos em que esta pessoa realmente precisar de você ao lado dela.

Entendeu que amor não são lençóis, beijos e brigas. Mas sim companhia, crescimento, soma.
E mesmo depois de tanto tempo sem aquelas importantes aulas que ela tanta amava com sua paixão juvenil, e sem o professor com quem ela ria e gritava, como toda mulher jovem que parece um avestruz com cãibra, ela agora havia aprendido a lição mais importante que o professor da foto rosa poderia ter ensinado: ela gostava dela. Não havia mais razão para ser insegura.

Ela, pela primeira vez juntou o preto e o branco, o frio e o quente, o doce e o salgado. Virou equilíbrio, virou harmonia...
Como a harmonia daquela bossa que o professor cantou no primeiro dia de aula, e que agora ela escutava, enquanto lembrava dele com carinho e olhava seu diploma, o sucesso.

2 comentários:

  1. É! Já deu pra ver que 2011 promete. Começou com tudo...
    Vai minha DIVA, quebra tudo
    bjs saudosos e amorosos

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  2. Gratidão por tão belas palavras, sorrisos e gestos é o que eu posso ter.
    Obrigado!

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