sexta-feira, 1 de maio de 2009

O amplexo soturno. O ósculo taciturno.




Aquelas vias de acesso entre as ruas e vielas estavam me tonteando. Me sentia nauseada com tanta gente, com tantos carros e com tanto mundo ali, naquela avenida. Do outro lado, esperando para atravessar, três garotos de boné e tênis riam dos sapatos de jacaré daquela jovem senhora parada ali, pacientemente e educadamente fingindo, naquele momento, que tinha sérios problemas auditivos. Me senti enojada com tamanha falta de respeito de um bando de moleques que mal sabia o que significava uma parcimônia abusando da paciência das pessoas educadas.
Sempre me perguntei o porquê de tamanha falta de educação entre as massas sociais, e acho que a resposta está no ego do ser humano. Na vontade gigante de levar a vida do jeito que "as vítimas" da chacota levam. Acho que por isso nunca me importei muito com as palavras de invasão ofensiva que já me lançaram com flecha certeira.
O bandinho desrespeitoso atravessou a rua, entre passos largos e risos altos, distorcidos. A jovem senhora olhava com desdém os rapazes, que colocaram seus capuzes por cima do boné e quase me derrubaram na correria afoita de, quem sabe, alcançar a porta aberta do elevador para o andar da malandragem. Eu fitava a rua quando um passarinho amarelo pousou suave quase aos meus pés. Eu queria fugir, sair desse concreto e correr para aquele meu jardim particular que vou quando canso de tudo, onde só há verde e sorriso, flor e perfume de paz. Eu divagava sobre tudo o que via e viajava alada sobre o meu infinito íntimo - além do entendimento -. Foi quando o vi.
Ele estava ali,na minha frente e em pleno sol, o meu milagre particular. Ele olhva para mim. Então o vazio de concreto que já estava quase que dominando o meu cérebro sumiu, num rompante de loucura tudo sumiu de minha cabeça, como muros indo ao chão. Como se eu tivesse planado daquela rua cheia para o meu jardim, e estivéssemos só eu e ele.
Naquele dia ensolarado, no meio da rua eu via o quanto ele era bonito, mas ele não sorria.
Aquela força permanente como um ímã que sempre me arrastava para o lado dele fincava-me o peito com força, e meus pés já se mexiam em sua direção sem que eu pudesse me negar ou contestar, nem mesmo discutir sobre a decisão de andar até lá. O milagre realmente aconteceu quando não movi nenhum centímetro de meu corpo, apesar de estar a segundos de fazer isso, e vi...
Embasbacada, mas vi que era ele quem vinha em minha direção. Vampiro de olhos castanhos, quase flutuava, mesmo que caminhasse vorazmente, chegando até mim. Iniciou-se o fim da Era do Gelo, e começava a brotar da terra as flores da mesozóica.

2 comentários:

  1. :) bonitão! Devia escrever um livro.
    Bjobjo!

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  2. MARAVILHOSO... Já nem te chamo mais de Diva das Letras de brincadeira. Agora é sério a coisa é séria!
    Finca a Pua

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