segunda-feira, 4 de outubro de 2010

J’aurais besoin d’un aller simple, s’il vous plait.

Era fria como um destes continentes árticos que faz nossa pele agulhar de dor.
Tinha cubos de gelo incrustados na carne, e sentia orgulho de ser assim.
Ela era também fulgaz como aquele vento frio que bagunça nossos cabelos e faz nosso nariz ficar vermelho.
Perpendicular a isso, era afável. Intensa.
Doava carinhos demais, palavras doces, sorrisos. Gostava de recebê-los.
Tinha sempre estes dois lados, e os dois eram fortes demais para que um aparecesse mais que o outro, então os dois eram predominantes. Ela era duas, e estas duas tinham pólos opostos.
Difícil entendê-la.
Era agridoce. Discreta e estabanada. Intensa e sutil. Um pouco louca, um pouco sanidade. Um quadro típico metamórfico de dualidades reversas. E adorava ser isso.
Era aventureira, gostava do perigo, do risco, de se atirar de um avião com um pára-quedas e de cair em queda livre. Amava sentir correndo em suas veias a adrenalina. Idolatrava o prazer de viver intensamente.
Mas com amor não podia .Não queria. Temia.
Ela era a fuga do fulgaz prazer que o amor oferecia. Era fugitiva.
Não era do tipo que andava de mãos dadas como discretas algemas cabíveis na sociedade. Não gostava de receber flores bonitas que já estavam morrendo com o passar das horas. Não queria a luz das velas que se apagariam com o sopro de um sussurro.
Quando isso acontecia, ela desaparecia.
Deixando para trás algumas lembranças doces do seu jeito maluco, dos seus rastros de lama no tapete, do perfume de flores no casaco, dos fios de cabelo no sofá, da música que cantava sem saber, das gargalhadas banais, da alegria medonha de quem faz o errado parecer certo e faz o certo de forma errada.
Estas lembranças ficariam guardadas nas memórias ou nas gavetas de alguém.
E ela voltaria a aparecer, gargalhar, cantar pelas avenidas de outro alguém.
E quando tudo parecesse maravilhoso de novo naquele novo mundo, algo a inquietaria, a faria mover os pés, as pernas e os braços sem olhar para trás em direção ao cais, ao aeroporto.
Mostrando o passaporte ela novamente diria sorrindo:

- Preciso de uma passagem só de ida, por favor.









(Mas hoje eu acordei com vontade de correr. De ir embora, de ficar. De nunca mais ter que brigar e fazendo tudo que eu prometi nunca mais fazer.
Minha dualiade não machuca ninguém mais do que a mim. Eu sou confusa, perdida, intrusa em mim mesma. Sei o que é certo mas acabo fazendo tudo errado. Eu sou o erro encarnado. O medo, o anseio, a tia do menino de olhos azuis que precisa sempre sorrir de volta.
Eu quero que passe logo, quero ser jovem pra sempre, quero ter maturidade, quero parar de me machucar e de machucar quem gosta de mim. Quero parar de me defender atacando e de chorar em propagandas de margarina..
Não quero ser eu.)

3 comentários:

  1. que coiisaaaa lindaaaaa.......cada vez melhor.....te amo muitoooo

    ResponderExcluir
  2. Nossa Reka! Conseguiu encontrar algo que expressasse com exímia perfeição o meu ser!
    Amei...brigada!

    Dualismo- Olavo Bilac

    Não és bom, nem és mau: és triste e humano...
    Vives ansiando, em maldições e preces,
    Como se, a arder, no coração tivesses
    O tumulto e o clamor de um largo oceano.

    Pobre, no bem como no mal, padeces;
    E, rolando num vórtice vesano,
    Oscilas entre a crença e o desengano,
    Entre esperanças e desinteresses.

    Capaz de horrores e de ações sublimes,
    Não ficas das virtudes satisfeito,
    Nem te arrependes, infeliz, dos crimes:

    E, no perpétuo ideal que te devora,
    Residem juntamente no teu peito
    Um demônio que ruge e um deus que chora.

    ResponderExcluir