domingo, 17 de julho de 2011

Absurdos cobertos.

Depois de teu assassinato, sai em disparada sem olhar para trás.
As vozes tristes e sombrias de um fantasma recém atingido ainda ecoavam em meu ouvido.
Seu corpo havia morrido, mas você não.
Como presença palpável você me seguia, e por descuido, eu te deixei me assombrar.
Sua matéria espanpanante me entrelaçava e sugava, e eu não podia mais me desvencilhar.
De nada adiantou uma mortal espada, um enterro sombrio numa fortaleza.
Sua presença sempre estaria em mim, e me assombraria em cada minuto desatento em que minha guarda estivesse baixa.
O quão tolos somos nós, em achar que podemos matar nossos próprios fantasmas?
Pois deles somos feitos, e com eles somos ensinados.
Foi assim que descobri que não adianta te matar.
O ódio não pode ser vencido, apenas ignorado.
Pois ignoro-te, fantasma pueril de minha alma, servindo a senhora de teu destino,
a honestidade.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Absurdos descobertos.

Somos como Musashi e Sasaki.

Por isso ontem eu a chamei, a senhora de teu destino.
Ela veio.
E me contou quem você é de verdade.
E os segredos seus e dela.
Chorei.
Puxei minha espada, te matei.
E nas sombras de um enorme castelo, finalmente eu te enterrei.

sábado, 2 de julho de 2011

Ou sont-ils a present, a present mes vingts ans?

E hoje eu acordei com uma falta,
uma saudade,
uma vontade de reviver momentos,
de criar uma máquina do tempo.
Ah, se eu pudesse.
Ah. Se eu soubesse.
Me falta o cheiro, o abraço.
Me falta o colo, a conversa.
Me falta a tranquilidade daquele bar...
Me falta a música, o riso, a omnisciência dos bêbados.
Me falta o café, o vinho barato.
Me falta o apelido, o afeto, o arpejo do violão.
A rua dos dois algarismos, os vinis do melhor amigo, a última mesa que canta música para se ouvir.
Me faltam os passos tortos e felizes, a magreza da maldade.
Me falta tudo, menos vontade.

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Ontem ainda, eu tinha vinte anos
Acariciava o tempo e brincava de viver
Como se brinca de namorar
E vivia a noite
Sem considerar meus dias que escorriam no tempo
Eu fiz tantos projetos que ficaram no ar
Alimentei tantas esperanças que bateram asas
Que permaneço perdido sem saber aonde ir
Os olhos procurando o céu mas, o coração posto na terra
Desperdiçava o tempo acreditando que o fazia parar
E para retê-lo, e até ultrapassá-lo
Eu só fiz correr e me esfacelar
Ignorando o passado, que conduz ao futuro
Eu desprendia de mim qualquer conversação
E opinava que eu queria o melhor
Por criticar o mundo com desenvoltura
Ontem ainda eu tinha vinte anos
Mas perdi meu tempo a cometer loucuras
Que não me deixa, no fundo nada realmente concreto
Além de algumas rugas na fronte e o medo do tédio
Porque meus amores morreram antes de existir
Meus amigos partiram e não mais retornarão
Por minha culpa eu criei o vazio em torno a mim
E gastei minha vida e meus anos de juventude
Do melhor e do pior, descartando o melhor
Imobilizei meus sorrisos e congelei meus choros
Onde estão agora, meus vinte anos?


[Aznavour]

sexta-feira, 1 de julho de 2011