terça-feira, 29 de março de 2011

Canção do desespero.

Ouvi o gemido da dor incessante
Ouvi o fio da navalha no apogeu
Corri em busca da dor lacrimejante
Encontrei com sangue as mãos d'um ateu

Ouvi ao longe o seco estampido
Caminhei dentre a curiosa multidão
Olhei com gosto o rosto do mendigo
Morto de graça pelo policial ladrão

Fui ao quarto de um apático senhor
Família reunida em contínua oração
Uma vida cansada de luxos, gula e dor
Agora anestesiada com a minha canção

Segui o passo do garoto ligeiro
Correndo pelas ruas com seu carrão
Pegou o túnel escuro sem freio
E perdeu sua vida por opção

Estou cansada do ser humano imprudente
Que menospreza a vida e tenta me enganar
Estou cansada de encontrar crianças
Que cedo demais tenho que buscar

Quero sossego, quero férias!
Minha foice cegou de tanto trabalhar
Gosto do sangue das pessoas intrépidas
Mas dos inocentes quero cessar

E num apelo desesperado em poesia
Peço, dêem um pouco de atenção à vida
Pois esta, minha rival conhecida
Está numa rede a descansar

Enquanto eu, poderosa Morte
Nem suspiro, nem respiro
Apenas espero teu ansioso pedido
Para, num sorriso, te ceifar.


segunda-feira, 14 de março de 2011

É uma direta, e não uma indireta.

Passos largos para pessoas de refrações pequenas
Inóspitas decisões, que se tomadas por sí divagam
Sutileza exorbitante na busca da razão desconhecida
Perfeito sistema auditivo que busca o desdém.

Lógica da razão de um só que se aproveita
Anos de convivência reduzido a uma frase ou ditame
Convés da injustiça, doloroso Platão, seu criador
Pense por sí só desiludido feitor.

Lembra do passado, dos ditos e feitos
Acha em tua mente as respostas ja respondidas por outrem
Eleva teu espirito e foge da mentira desvairada
Mentira essa não só dita para ti, mas como para mim

Pessoa maravilhosa essa tua amiga, que tem objetivo claro
Preto no branco sempre o percorreu, observado
Não atingindo-o apela desesperado para o fruto de tua inocência
Acorda pessoa vivida, não caia em truques fajutos

Entenda que existe uma única versão, a verdade
Em meu mundo, negar verdade não existe, ciente
Atitude de um homem é aceitar o erro e o acerto

E lembre-se, não é uma indireta mas sim uma direta.



(Eric Araujo)

quarta-feira, 9 de março de 2011

Das gavetas.

Teve sol e teve chuva.
Eram santos e pagões.
Escolhiam as vestes para o dia.
Eram lagoas, outrora vulcões.
Nunca haverá alteregos tão opostos
Como tinham aqueles dois.

quarta-feira, 2 de março de 2011

O encontro da manhã.

São sete horas da manhã e eu estou tomando um forte café.
Vou para a janela olhar a praia, e o mundo lá fora já acordou.
Menos eu.
Ele pára ao meu lado e eu não olho em sua direção, com medo dele desaparecer outra vez.
Só vejo a ponta de sua longa e brilhante túnica alva, com o canto do olho.
Árabe, moreno, e de traços muito bem definidos, ele nada diz.
Apenas me toca com seu silêncio e compreensão, com sua magnitude e luz.
Fitando o nada, minha mente começa a trabalhar ligeiramente, vasculhando gavetas do subconsciente.
Eu tenho que fazer alguma coisa, eu sei que eu tenho, mas não me lembro o quê. Não consigo lembrar!
Este é o homem que caminha ao meu lado mesmo quando eu não quero, mesmo quando sinto vergonha de mim.
Esteve comigo no meu Chernobyl, e me deu a mão mesmo sabendo que os fluidos radioativos provinham de meu corpo e mente.
Agora, neste instante pausado da manhã, ele estava aqui ao meu lado para me dizer alguma coisa da qual eu não conseguia escutar.
Decidi então sair da janela, me retirar da podridão e da poluição lá de fora para me focar na podridão fétida que provinha de mim.
Um fio tênue de luz, como uma linha de nylon nos envolvia, traçando uma linha de amor que nos fazia pai e filha, mestre e aprendiz.
Havia muitos anos em que eu não via ele, mesmo ele estando ao meu lado.
E agora ele estava aqui, com sua enorme e brilhante presença desnuda para minhas pobres pupilas.
Chorei. Sorri. Emocionei.
Então decidi caminhar na busca de mim mesma, e descobrir a chave do meu mistério:
O que eu tenho que fazer? Sei que tenho que fazer alguma coisa, mas não consigo me lembrar o quê.
Vamos então ter uma longa conversa de 48 horas.
Sei que vou levar grandes lições de moral por ter ficado estagnada tanto tempo, mas que me sirva de lição.
Preciso caminhar, preciso ir, preciso seguir em frente...
Meus passos estão pesados tamanha a carga que carrego...
Devo deixar tudo para trás, devo abandonar o peso e carregar só o que é leve e o que poderá me nutrir daqui em diante.
Fechei  meus olhos, mas a luz continuava lá.
Que agora eu possa me levantar, que eu possa seguir, que eu tenha força e coragem para continuar.
Que os corpos se levantem da preguiça,
Que as mentes acordem do sono pesado,
Que o altruísmo renasça nos corações,
Que haja fé,
Que não haja religião superior a verdade,
Que os mestres dêem lições verdadeiras aos alunos,
Que a bondade perdure mesmo nas sombras,
Que ninguém tenha medo do amanhã,
Que você também acredite,
Que os próximos dias sejam de paz,
E que a paz esteja com você.